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sexta-feira, setembro 30, 2005

há coisas que nunca mudam...

“O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direcção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Ninguém crê na honestidade dos homens públicos. Alguns agiotas felizes exploram. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas ideias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima a baixo! Toda a vida espiritual, intelectual parada. O tédio invadiu todas as almas. A mocidade arrasta-se envelhecida das mesas das secretárias para as mesas dos cafés. A ruína económica cresce, cresce, cresce. As falências sucedem-se. O pequeno comércio definha. A indústria enfraquece. A sorte dos operários é lamentável. O salário diminui. A renda também diminui. O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. Neste salve-se quem puder a burguesia… explora. A ignorância pesa sobre o povo como uma fatalidade. A intriga política alastra-se. O país vive numa sonolência enfastiada.”

Eça de Queiróz ,"As Farpas", 1871.

sugerido por cão de guarda

quinta-feira, setembro 29, 2005

no mural da (r)evolução

O medo de ser livre provoca o orgulho de ser escravo!

autor desconhecido

sugerido por m.ego

sexta-feira, setembro 16, 2005

a peste - ou porque será que notícias destas não abrem os telejornais?

"Fosso entre ricos e pobres aumentou na última década"

"Pobreza é flagelo imparável”

Nem as novas tecnologias e, muito menos, a globalização trouxeram mais justiça ao mundo. Pelo contrário. A desigualdade a nível global é maior do que há uma década. Esta é a grande conclusão do relatório sobre a Situação Social Mundial de 2005, das Nações Unidas, que ontem foi apresentado pelo secretário-geral, Kofi Annan. Mais de 80% do produto interno bruto mundial pertence aos mil milhões de pessoas que vivem nos países desenvolvidos; os restantes 20% estão distribuídos pelos cinco mil milhões que (sobre)vivem nos países em desenvolvimento.


De acordo com as Nações Unidas, o fosso entre ricos e pobres aumentou na última década, apesar do crescimento sem precedentes e da melhoria das condições de vida em muitos países. O número de pobres não pára de crescer e já atingiu os 307 milhões de pessoas.

O relatório das Nações Unidas mostra que, nos últimos 30 anos, o número dos que vivem com menos de um dólar por dia duplicou nos países menos desenvolvidos. O dado mais preocupante, porém, é a tendência para esse valor aumentar até 2015, altura em que aqueles países poderão passar a ter 420 milhões de habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza.


Em algumas regiões, sobretudo no continente africano, parte da população tem um consumo diário de apenas 46 cêntimos, enquanto que um cidadão suíço gasta cerca de 50 euros. Nos anos 80, a população africana que vivia com menos de um dólar por dia era de 56%. Hoje este valor atinge os 65%.


A situação mundial do emprego caracteriza-se igualmente por uma extrema desigualdade. Em 2003, cerca de 186 milhões de pessoas não tinham emprego, o que corresponde a 6,2% da população activa total e representa um aumento de 140 milhões de pessoas relativamente à década anterior, quando este valor não ultrapassava os 5,6%.

Os jovens são os mais afectados, uma vez que a taxa de desemprego na faixa etária entre os 25 e 35 anos é 3,5 vezes superior à da população adulta. Em todo o mundo, há 88 milhões de jovens desempregados, o que representa 47% de todas as pessoas que não têm emprego.


De acordo com o o documento das Nações Unidas, em 2004, menos de metade dos jovens disponíveis para trabalhar tinham um emprego e muitos estavam subempregados, com contratos de carácter temporário ou outros vínculos laborais precários.

Em muitos países em desenvolvimento, a grande maioria dos jovens trabalha na economia paralela 93% dos novos postos criados em África e quase todos na América Latina pertencem à chamada economia informal.


O fenómeno acentuou-se entre 1993 e 2003, quando a participação dos jovens no mercado de trabalho sofreu uma queda de 4%. Contudo, lembra a ONU, a população juvenil que frequentava o ensino secundário e superior também aumentou, tendo crescido na década anterior 15% no ensino médio e 8% no superior.


Atrás do desemprego está sempre a pobreza e os dados da ONU confirmam a regra 25% dos jovens do mundo (22,5% da população mundial) estão em situação de pobreza extrema. E o futuro não é prometedor: segundo os cálculos das Nações Unidas, em 2015, haverá 660 milhões de jovens em idade activa, o que implicará um crescimento de 7,5% em relação aos que faziam parte da força de trabalho em 2003. Ou seja, até 2015 haverá mais jovens do que nunca a procurar um lugar no mercado de trabalho.


O mundo analisado à lupa da ONU é pessimista e mostra que o progresso só acentuou ainda mais as disparidades entre pobres e ricos. Mas Annan recusa o pessimismo. "Ao identificar algumas questões mais críticas que afectam o desenvolvimento social nos nossos dias, o relatório pode ajudar a orientar medidas decisivas que visem construir um mundo mais seguro e próspero, em que as pessoas possam usufruir dos seus direitos humanos e liberdades fundamentais", concluiu o secretário-geral da ONU. Teremos de esperar mais uma década para saber se o seu alerta foi lançado em terra fértil."

"Desigualdades sociais em números:

20%

do produto interno bruto mundial tem de ser partilhado por cinco mil milhões de pessoas, espalhadas sobretudo por África. Os outros 80% vão para os bolsos de pouco mais de mil milhões de habitantes que vivem nos países desenvolvidos.


65%

da população mundial vive com menos de um dólar por dia. Na década de 80 este valor situava-se nos 56%. Em muitas regiões do continente africano, parte da população tem um consumo diário de 46 cêntimos. Em contrapartida, um cidadão suíço gasta actualmente em média 50 euros por dia.


307

milhões de pessoas vivem hoje na pobreza. A tendência é, no entanto, para aumentar já que em 2015 os países menos desenvolvidos poderão, segundo os cálculos da ONU, passar a ter 420 milhões de habitantes a viver abaixo do limiar da pobreza.


186

milhões de pessoas estão desempregadas em todo o mundo, o que corresponde a 6,2% da população activa e representa um aumento de 140 milhões face à década anterior (5,6%)


47%

Os 88 milhões de jovens desempregados equivalem a 47% de todas as pessoas que procuram um emprego.

93%

dos novos postos de trabalho criados na última década no continente africano e quase todos da América Latina pertencem à economia paralela ou informal.


25%

dos jovens no mundo estão em situação de pobreza extrema. De acordo com as estatísticas da ONU, em 2015, haverá 660 milhões de jovens em idade activa, o que implica um crescimento de 7,5% em relação aos que faziam parte da força de trabalho em 2003.


14,5%

dos jovens portugueses estão desempregados, segundo o Instituto Nacional de Estatística. A taxa nacional total é de 7,2%."

sugerido por cão de guarda

sábado, setembro 10, 2005

11 de setembro (1973)

Queridas mães, pais e amados daqueles que morreram no dia 11 de Setembro (2001) em Nova Iorque:

Sou chileno e vivo em Londres. Quero dizer-vos que talvez tenhamos algo em comum. Os vossos entes queridos foram assassinados, como os meus, e na mesmíssima data: 11 de Setembro. Terça-feira, 11 de Setembro.

Em 1970 houve eleições. Eu tinha 18 anos e votei pela primeira vez. Tínhamos um sonho lindo, o de construir uma sociedade em que o nosso povo partilhasse os frutos do seu trabalho, a riqueza do país. Por isso, em Setembro de 1970 todos votámos e vencemos.

“As bandeiras agitam-se no ar,

Vermelhas, brancas e azuis,

E a história assim começa

Em cada rua,

Em cada esquina…

Vozes erguem-se como ondas

Num oceano sem fim,

Os punhos manifestam-se no ar…

Da montanha até ao mar.”

Havia leite e educação para as crianças. Terras por cultivar foram dadas a camponeses sem terra. As minas de carvão e de cobre e as principais industrias tornaram-se pertença de todos nós. Pela primeira vez na sua vida, as pessoas tinham dignidade.

Tenho confiança na inteligência do povo. O povo organizado é inteligente. Como é que se pode ter receio de uma organização do povo? Mas ignorávamos como tal era perigoso. O vosso Secretário de Estado, Henry Kissinger, anunciou: “Não sei porque havemos de ficar a ver um país tornar-se comunista, devido à irresponsabilidade do seu próprio povo”.

A nossa decisão democrática e os nossos votos eram irrelevantes. O mercado e o lucro são mais importantes do que a democracia. A partir desse momento a nossa dor, e a vossa dor, foi legalizada. O vosso Presidente Nixon disse que faria a nossa economia gritar. Ele mandou a CIA tomar parte activa num levantamento militar, num golpe de estado. Dez milhões de dólares, e mais se necessário, foram disponibilizados para derrubar o nosso Presidente, Salvador Allende.

Amigos, os vossos líderes pretenderam destruir-nos. Desencadearam uma guerra no sector dos transportes, que quase paralisava a nossa economia. Eles pararam todo o comércio entre nós, o que provocou o caos. Estavam feitos com os chilenos que não aceitavam a nossa vitória. Os vossos dólares apoiaram neo-fascistas que geraram violência nas ruas e puseram bombas em fábricas e centrais eléctricas. Por estranho que pareça, não surtiu efeito.

Povo:

“Allende, Allende, o povo defende-te!”

Mulher chilena:

Eu sou chilena e tenho de defender o governo de Allende porque é um governo do povo.”

Allende:

“Estamos a bater-nos pelo nosso direito de construir um futuro de liberdade e justiça.”

Nas eleições municipais o nosso apoio aumentou. E o que fizeram os EUA?

Bush:

“No dia 11 de Setembro (2001), inimigos da liberdade cometeram um acto de guerra contra o nosso país e a noite pôs-se sobre um mundo diferente, um mundo onde a própria liberdade é atacada.”

No dia 11 de Setembro (1973), inimigos da liberdade cometeram um acto de guerra contra o nosso país. Ao raiar da aurora, tropas e tanques avançaram sobre o nosso palácio presidencial. Allende e os seus ministros e conselheiros estavam lá dentro. Allende não fugiu quando o Palácio Moneda foi atingido.

Allende:

“Eles têm o poder, podem escravizar-nos, mas o progresso social não pode ser travado, nem pelo crime nem pela força. A História é nossa e é feita pelo Povo! Viva o Chile! Viva o Povo! Vivam os trabalhadores!”

Ele foi assassinado. Assassinaram-no. Numa terça-feira. A nossa terça-feira. Dia 11 de Setembro de 1973. um dia que destruiu a nossa vida para sempre.

Deram-me um tiro no joelho e fizeram-me encostar a cara ao pó da estrada. Bateram-me tanto, que, por várias vezes, perdi os sentidos.

“Saíste p’ró trabalho

Numa terça-feira de Setembro,

Estavam as ruas sitiadas

Na cidade de Santiago.

Ruas surdas à metralha…

Ruas cegas à traição,

Insensíveis à mortandade.

Saíste p’ra trabalhar

Terça-feira e não voltaste!

Hoje caminho p’las ruas,

Ando de terra em terra,

Buscando-te sem cessar,

Querendo saber de ti.

Nas mãos

Tenho uma pequena foto tua

E em teus olhos brilha

Aquele sorriso de outrora.

Onde estás?!

Onde estás?!

Num descampado qualquer…

Cegos os teus olhos…

Quebrado o teu corpo,

Mas inteiros os teus sonhos.

Saíste p’ra trabalhar terça-feira

E não voltaste!”

Um dia na prisão cheguei-me à grade e vi o German Castro a ser arrastado pelos braços. Ele não conseguia andar; sangrava dos ouvidos. Eles partiram-lhe os ossos e depois assassinaram-no. Soubemos dos campos de tortura dirigidos por oficiais do exército treinados na Escola das Américas nos EUA. Soubemos que havia gente estripada, atirada de helicópteros, torturada em frente dos filhos e dos cônjuges.

Sabem o que eles faziam?

Punham-lhes electricidade nos órgãos genitais. Punham ratazanas nas vaginas das mulheres e treinavam cães para as violar. E depois soubemos da Caravana da Morte, do general que ia de terra em terra, a ordenar execuções aleatórias.

30 mil pessoa foram assassinadas. 30 mil!

O vosso embaixador no Chile queixou-se das torturas; e Kissinger: “Ele que pare com os discursos de ciência política.”

O General Pinochet, organizador do golpe sorriu e aceitou os parabéns do Secretário de Estado. E os dólares recomeçaram a entrar no Chile.

Chamaram-me terrorista e condenaram-me a prisão perpétua, sem direito a julgamento ou defesa. Fui libertado 5 anos depois, mas tive de deixar o meu país para não pôr em risco os meus amigos. Não posso regressar ao Chile, embora não pense noutra coisa. O Chile é a minha pátria, mas o que seria dos meus filhos? Eles nasceram em Londres. Não os posso condenar ao exílio, como eu. Não posso fazê-lo agora, mas anseio por voltar à pátria.

Santo Agostinho disse: “A Esperança tem duas belas filhas – Raiva e Coragem. Raiva pelo estado das coisas, Coragem para as mudar.”

Mães, pais e amados dos que morreram em Nova Iorque: em breve será o 32.º aniversário da nossa terça-feira, dia 11 de Setembro, e o quarto aniversário da vossa. Nós recordar-vos-emos. Espero que vocês se recordem de nós.

Pablo

sugerido por m.ego

quinta-feira, setembro 08, 2005

o extremista

…Neste modelo de sociedade em que estamos inseridos, onde as pessoas são manipuladas para terem medo de rupturas e revoluções e onde lhes é incutido uma espécie de paranóia pela moderação, ser extremista é ser demente, fanático e inconsciente.

Mas afinal o que é de facto um extremista? Extremista é todo aquele que adopta teorias extremas/fracturantes e que não está disposto a negociar e a abdicar delas por motivo algum.

…defendo o diálogo e a negociação constante como forma de se arranjar as melhores soluções para cada situação. Todas as ideologias podem ser readaptadas à realidade existente. É necessário, perceber os novos tempos, as culturas, os comportamentos, o clima, a geografia, etc, para se poder evoluir para sociedades mais justas e igualitárias.

Mesmo sendo uma pessoa aberta e dialogante, sou extremista em muitas coisas e orgulho-me disso. Há muita coisa que para mim não tem meio-termo, nem Lado B.

Sou extremista com muito gosto, quando digo que em situação alguma apoiarei esse tipo de guerras “à americana” cujo o resultado final traduz-se quase sempre na morte de milhares de pessoas inocentes e na extorsão da riqueza dos outros.

Sou extremista com muito gosto, quando me recuso a comprar produtos de empresas que têm como prática comum, o desrespeito pelos direitos humanos, muitas vezes pondo crianças a trabalhar como máquinas durante 14 / 16 horas por dia. (normalmente existe a tendência para se culpabilizar as marcas mais conhecidas, mas muitas vezes são as empresas que têm as marcas brancas que mais têm esse tipo de conduta.)

Sou extremista com muito gosto, quando aceito todo o tipo de “crime” consciente de manos que são vítimas da exclusão social, que sobrevivem nesta oligarquia do Ocidente e que assaltam grandes estruturas financeiras como Bancos, Bombas de Gasolina ou Hipermercados.

…Ser extremista em situações de luta e protesto, faz de nós activistas e isso tem enorme relevância nas reformas e transformações que desejamos. Moderados não fazem História.

Valete

sugerido por Valete

quarta-feira, setembro 07, 2005

o que existe de mais terrível na comunicação é o inconsciente da comunicação*


"Two residents wade through chest-deep water after finding bread and soda from a local grocery store after Hurricane Katrina came through the area in New Orleans."


after finding bread and soda from a local grocery store (depois de encontrarem pão e refrigerante de uma mercearia local)



"A young man walks through chest deep flood water after looting a grocery store in New Orleans on Tuesday, Aug. 30, 2005."

after looting a grocery store (depois de pilhar uma mercearia)

"Este mecanismo comunicacional moderno acompanhado de um regresso dos monopólios, inquieta com razão, os cidadãos.

Estes lembram-se dos alertas de George Orwell e Aldous Huxley contra o falso progresso de um mundo administrado por uma polícia do pensamento. Eles temem a possibilidade de condicionamento das mentalidades à escala planetária." (Ignacio Ramonet)

sugerido por cão de guarda

*Pierre Bourdieu