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domingo, agosto 20, 2006

nome de paz: ±

AP: Mas porquê?

±: Encontramo-nos no auge da era da informação e da comunicação, acompanhada por uma crise pós-moderna, consequência da civilização industrial e do fracasso da economia mundial sustentada no lucro e na acumulação de riqueza, em detrimento da condição humana e dos seus direitos.

O mundo ocidental é governado por estados entregues a grandes corporações, cujo único objectivo é o lucro, englobando as grandes empresas de comunicação, colaboradoras na constante manipulação das massas consumidoras com o objectivo de manter a população afastada da arena pública, ocupando-a com trivialidades, com “ópios”, na qual os comunicadores participam a todos os níveis, como concretizadores da linguagem.

Cabe-nos a nós, designers, materializadores dessa comunicação, maquilhadores do comércio e do mercado, repensarmos o nosso papel social. Cabe-nos, igualmente a nós, questionar de que modo podemos ou deveremos cooperar ou então insurgirmo-nos nesta (des)ordem mundial.

Está nas mãos desta jovem disciplina decidir o caminho do seu crescimento, as suas cumplicidades, os seus objectivos e as suas decisões. O design, conversor de ideias em matéria visual, deve agora, no início do milénio, e ainda nesta fase tão inicial, ponderar o seu papel e determinar a sua função nesta aparente crise global. O projecto da modernidade incumpriu-se nos seus propósitos ao permitir a consubstanciação de mecanismos de exclusão que são, eles próprios, a sua essência. Assim, persistimos num mundo dividido: de um lado uma maioria que luta pela sobrevivência, do outro lado a riqueza é acumulada por uma pequena minoria.

AP: E então??

±: O ± nasce graficamente da consideração de que a comunicação funciona como a energia da nossa sociedade de informação (como uma pilha, o ± dos pólos), como um mundo dividido entre o mundo ocidental (+) e o mundo em vias de desenvolvimento (–), como um mundo que diverge entre elite (+) e massas (–), entre a riqueza e a opulência (+) e a pobreza e a miséria (–), entre hegemonia (+) e o subvalorizado (–), entre o visível (+) e o invisível (–), o positivo (+) e o negativo (–) …

Neste sentido, representará a nulidade matemática entre o + e –, esta materializada, assim, na sua função de substituição de outros elementos de comunicação. Em termos cromáticos, assume o preto e branco, por dois motivos predominantes: primeiro pela força visual que o contraste entre estas duas cores provoca (o que é um elemento fundamental para o impacto prático exterior da identidade), a par da simplicidade da sua forma gráfica que o torna facilmente memorável e segundo, por serem as cores mais neutras, livres de possíveis conotações cromáticas.

A ausência de texto é um factor essencial, na medida que cria mais expectativa, incógnita e mistério, por não permitir uma leitura óbvia e directa, não ter um nome ou título, causando no público um efeito de diversificação de significados – são as pessoas que lhe dão nome, consoante as suas interpretações pessoais, para algumas nem é mais menos, são cruzes!

Deste modo, juntando o facto do seu carácter subversivo – a facilidade com que é memorizado juntamente com o facto de estar “aqui e ali”, onde menos se espera, ao virar da esquina ou no automóvel de alguém – com a sua indefinição linguística ou com a sua finalidade, torna-o muito mais apelativo e digamos de um modo pragmático, mais funcional.

O ± afirma-se como a substituição contra a repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância e sensibilidades internas.

AP: Para quê?

±: Num mundo em que o mercado e o corporativismo ameaçam cada vez mais os direitos fundamentais do Homem, devemos questionar de forma consciente, qual a nossa posição e quanto iremos contribuir para a sua continuidade.


Em grande parte seremos construtores de linguagem visual direccionada para a comunicação doutrinária, da face mais negra e hipnótica do mercado, da sua falsa e enganadora imagem? Faremos parte da elite culta mas
apática que ensina e prolifera em prol da manutenção/preservação da autoridade da outra, superior, pequena elite?

Metaforicamente, podemos afirmar que o papel de embrulho deste embuste/surpresa será criado por nós, ou seja concebemos as imagens que criarão as atitudes de submissão à autoridade.


Mas até que ponto nos poderemos insurgir ou fazer parte de uma dissidência comunicativa? Se até aqueles que tentaram, e tentam, acabaram por entrar neste polvo, que é o mercado, aparentemente sem saída. Parece ser aqui que reside o paradoxo da nossa disciplina: o design surge, em termos latos, para vender…


Os métodos e práticas do projecto procuram afirmá-lo como a substituição contra a

repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância e sensibilidades internas. As marcas não têm conteúdo, não vendem produtos nem necessidades físicas, vendem
fantasias, imagem e necessidades psicológicas, mediaticamente
impostas. Assim, o ± – a identidade criada – garante a igualdade perante os objectos de consumo, não sendo criador de status ou diferenças sociais a partir do valor social e económico das marcas.


A sobreposição sobre os objectos vitais do mercado – como a publicidade, o dinheiro, a comunicação doutrinária (media essencialmente) ou mesmo o espaço público – será um dos principais objectivos. Um outro objectivo a referir será, utopicamente, substituir o que consideramos a identificação gráfica superficial, toda aquela que contribui para a distinção social, não só pelo status psicológico que lhe é atribuído, como pelos malefícios materiais, ligados às condições de trabalho por exemplo, que estas provocam.

AP: E que tal?

±: O ± teve um resultado que considero positivo e inesperado, nas áreas onde foi aplicado, do ponto de vista da interacção entre as pessoas e o meio, motivado pelo interesse fenomenológico das reacções de um público alargado. Os cartazes começaram a ser arrancados, os jornais publicaram, as pessoas questionaram o seu significado, criando as ideias mais exóticas.

Nos media, caros e elitistas, só se expressa quem tem dinheiro – o mercado e o sistema de doutrinação, que possuem os media – ou então quem se torna “notícia”. O ± foi um caso, aparecendo em jornais e revistas. Na generalidade a imprensa escrita é um veículo de informação essencial na nossa sociedade, a sua interpretação e assimilação devem ser cuidadas e atentas e na maioria das vezes reinterpretadas, mas é um excelente meio para transmitir mensagens, pois é uma fonte, socialmente “credível” e tem uma influência determinante nos comportamentos, nas discussões, nas preocupações e nas distracções dos cidadãos. Seguiu também um percurso alargado na área da intervenção localizada, tendo sido aplicado em diversas instalações e participações expositivas.

AP: E agora?

±: Agora é para continuar, nem mais, nem menos.

Entrevista realizada em Junho de 2006 por ABSOLUTPROPAGANDA

sugerido por m.ego