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quarta-feira, fevereiro 02, 2005

todos os comportamentos humanos são naturais

"Tal como árvores da mesma espécie que ao crescerem continuam na mesma espécie, mas com a liberdade de terem formas e feitios diferentes, por casualidades externas e internas, porque são várias as variáveis que influenciam o seu comportamento, também os comportamentos dos humanos, qualquer que sejam, são naturais à espécie humana. A questão é de visão.

Um humano pode julgar outro humano pelos seus comportamentos, e achar que eles não são naturais, que são desvios à espécie humana. Mas outra coisa que não um humano, julgaria os comportamentos de todos os humanos como sendo naturais à sua espécie. Essa coisa poderia dizer que não é natural um humano voar, mas diria que é natural um humano ter a capacidade de construir algo que lhe possibilite voar. E se algum dia um humano voasse, esse comportamento passaria a ser natural no humano.

Essa outra coisa poderia também chegar a outras conclusões. Poderia, pela simples observação, encontrar padrões, acontecimentos que ocorrem com maior frequência que outros, e poderia, se lhes quisesse dar um nome, chamar a uns, acontecimentos normais, ou mais normais que outros, utilizando a palavra normalidade no sentido em que esse acontecimento se sobrepõe, ou ocorre com mais frequência que outro,e a outros, acontecimentos anormais, com o sentido oposto do primeiro.

Tudo tem a ver com a liberdade, ou melhor, com as variáveis de liberdade. Peguemos outra vez no exemplo da árvore. O que é que a nossa observação nos pode dizer que é natural numa árvore? Ela pode dizer que não é natural a uma árvore andar, que é natural que ela cresça e se desenvolva apenas num determinado espaço. Mas dentro desse espaço a arvore ainda tem muitos padrões de liberdade. Os seus ramos, a forma do seu crescimento, o seu tamanho, a sua constituição interna e externa, a sua cor, todas estas variáveis podem mudar numa árvore, e mesmo em árvores da mesma espécie. No entanto, veremos que existem padrões entre elas, e que existem variações a esses padrões, e que uns ocorrem mais frequentemente que outros, mas tudo dentro do que observamos ser possível a uma árvore, dentro das variáveis de liberdade que ela tem. Uma couve de quatro metros de altura não é uma couve normal, mas se determinados factores se conjugarem, é possível a uma couve ter quatro metros de altura. Nesse caso, eu diria que é natural que uma couve tenha quatro metros de altura, porque a sua constituição e as suas variáveis de liberdade o permitem. Ela não deixou de ser couve por ter quatro metros de altura. No entanto, eu diria que não é normal isso acontecer, e só no sentido em que o acontecimento é raro, e apenas é raro porque as variáveis que o influenciaram, ou permitiram, são raras.

Ora, da mesma forma está um humano. Um assassino não deixa de ser um humano. Mas o seu comportamento não é normal, ou seja, o seu comportamento ocorre com pouca frequência, porque as variáveis que se conjugaram para essa pessoa se tornar numa assassina são raras. As variáveis de liberdade que a espécie humana tem permitem-lhe comportamentos assassinos, é só conjugarem-se na devida proporção. Nesse sentido, é natural ao humano ser assassino, porque está dentro da sua natureza, enquanto espécie humana, ter o potencial para o ser.
Quem diz assassino, diz todos os comportamentos que os humanos têm, que fogem da “normalidade”.

Eu não gosto da palavra normal, porque o seu oposto é anormal, e esta palavra é usada entre nós, frequentemente, com conotação negativa. Por isso eu tive o cuidado de acrescentar que o normal era o que ocorria com maior frequência, pois pretendi fugir a qualquer juízo de valor. Eu não acho que uma coisa anormal seja necessariamente negativa, e muito menos em relação ao que acabei de expor. Os julgamentos comportamentais são coisas que pertencem à parte social da espécie humana, que está muitas vezes em conflito com a natureza.

Eu faço parte da espécie humana, mas não pretendo fazer aqui um juízo de valor acerca de nada, pretendo apenas expor da forma mais clara que consigo o que me parece ser uma lógica de natureza.

Eu usei o exemplo de assassino, mas podia ter posto pedófilo, homossexual, ou outra coisa qualquer. Em termos de juízos de valor, cada caso tem o seu, entre povos, e entre eras. A pedofilia ocorre com mais frequência, a homossexualidade ainda mais, e em cada caso os comportamentos são sempre humanos, são sempre naturais, mas ao longo dos tempos houve sempre choques com estes comportamentos, que, por ocorrerem com menor frequência, e por variadíssimos outros factores, foram sendo postos de parte de uma ordem social e moral que os humanos para si criaram, e que acharam necessidade de a defender, na tentativa de preservar um sistema de valores, que por sua vez ajudaria na preservação de uma ordem.

Resta-me dizer que eu não estou contra a necessidade de se estabelecer uma ordem social. Entendo que os homens e mulheres são animais sociais, que precisam e sobrevivem à conta do esforço conjunto, e entendo que não há esforço conjunto sem organização. No entanto, entendo que os problemas se resolvem melhor se procurarmos saber o máximo sobre eles. Entendo que devemos usar a razão para procurar os factos, e que estaremos mais próximos de chegar a soluções se tivermos o máximo de consciência do que nos rodeia. O universo é complexo, o mundo é complexo, a vida é complexa. Mas não estaremos mais próximos do entendimento do que nos rodeia se persistirmos em não olhar."

sugerido por m.ego