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sexta-feira, novembro 11, 2005

como posso ser mais francês?

“As pessoas como eu – descendentes de imigrantes, árabes, negros ou asiáticos – estão a retomar as suas raízes e a adoptar o seu património cultural, exactamente o inverso do que os nossos pais fizeram quando chegaram.

Os meus avós, por exemplo, que vieram da Argélia para viver, trabalhar e construir uma vida melhor, aceitaram o papel de hóspedes. Fizeram tudo o que podiam não só para se integrarem, mas também para se tornarem invisíveis. Chamar as atenções significava, geralmente, problemas – intermináveis controlos policiais de identidade e visto de permanência, comentários e insultos racistas – pelo que evitavam isso. Procuraram, tanto quanto possível, integrar-se e, ao fazerem isso, abandonaram os seus hábitos, língua e cultura.

Claro que não critico a sua opção. Mas as pessoas da minha geração não se envergonham de adoptara a sua cultura e, longe de procurarem a invisibilidade, dispomo-nos a denunciar os preconceitos e as injustiças que enfrentamos.

No meu caso, o Islão é uma parte importante daquilo que sou, tal como ser francês. Ambas as coisas não estão em oposição nem se excluem. Mas quando se ouve o debate, na França actual, diríamos que se excluem.

As pessoas que vivem em bairros como aqueles onde ocorreram os distúrbios iniciados a 27 de Outubro (2005) são tratados como cidadãos de segunda. Temos menos acesso aos direitos e serviços da república, as oportunidades de emprego são remotas. O que temos é um supermercado, um centro comercial para lojas dos 300, alguns restaurantes de comida rápida e talvez um complexo de cinemas. E mais nada. A ideia é criar diversões suficientes para ficarmos onde estamos. A mensagem é: “Não venham misturar-se com as pessoas do centro das cidades.” É o que a polícia diz, quando nos interpela num autocarro para a cidade:”Não têm nada que fazer no centro. Logo não têm motivo para lá ir. Voltem para onde pertencem.”

Antes do 11 de Setembro, diria que era uma espécie de racismo residual. Os problemas das pessoas em relação a nós tinham que ver com a nossa raça, com a cor da nossa pele. Hoje, com muitos jovens que retornam à religião quando iniciam a busca da sua identidade, a fé começa a ser a diferença que mais frequentemente lhes é apontada. Já não sou apenas um negro ou um árabe; sou um muçulmano. E isso é uma palavra de código estranho, alguém que está decidido a não se integrar.

Mas eu nasci e fui criado em França. Sou cidadão francês desde que nasci. Como posso ser mais francês? E há muita gente como eu, não apenas muçulmanos, mas negros e asiáticos.

É tempo dos franceses rejeitarem essas etiquetas antiquadas.

E também é tempo de as minorias rejeitarem o culto da vitimização.

As coisas não são perfeitas. Há muitos problemas. Esses problemas explodiram, libertando o ressentimento há muito reprimido de pessoas que se sentem indesejadas, desprezadas e varridas para o lado como lixo.

Para alterar isso, é preciso preencher a lacuna entre os arrabaldes e o resto da França. Temos de resolver as coisas que nos tornam diferentes. Eu sou francês, sou muçulmano, e há milhões como eu. Vivemos aqui, e não vamos para lado nenhum. Logo, comecemos a habituar-nos a isso.”

Médine (rapper francês, 22 anos, muçulmano. O seu último disco intitula-se ‘Jiade: o maior combate está dentro de ti mesmo’).

in Visão n.º 662, pág. 71

sugerido por m

1 Comments:

Blogger António said...

Bom!

É sdempre bom ouvir falar na primeira pessoa. Bom par acompreender os pontos de vista.

"E há muita gente como eu, não apenas muçulmanos, mas negros e asiáticos.

É tempo dos franceses rejeitarem essas etiquetas antiquadas. E também é tempo de as minorias rejeitarem o culto da vitimização."

Parece-me qu eé aqui a chave da questao. E também o problema!

2:59 da tarde

 

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