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sábado, dezembro 29, 2007

3(3) anos depois... sempre com convicção...


terça-feira, outubro 09, 2007

vacilo(s) revolucionário(s)


...sem Alberto Korda quantos de nós conheriamos Ernesto Guevara Lynch de la Serna?

quinta-feira, setembro 20, 2007

apelo

Iniciei no começo de 2007 uma cooperação com o Centro de Correcção Padre António de Oliveira em Caxias, que passa por realizar alguns projectos relacionados com a cultura HipHop, que vão desde workshops, concertos até apoio a hiphoppers ou potenciais hiphoppers pertencentes aquele centro. Nessa instituição estão miúdos (alguns mesmo muito novos) em regime interno ou semi-interno, por terem praticado alguns actos ilícitos. A maioria são jovens que crescerem em bairros problemáticos, ambientes hostis, lares disfuncionais e que sem amparo familiar e social foram facilmente vítimas do apelo das ruas e do crime. Quase todos eles adoram rap e principalmente rap tuga. Muitos deles sonham ser mc's. Escrevem letras sobre as suas experiências no bairro, nas ruas, nas esquadras, no centro de correcção com uma genuinidade impressionante. Alguns não sabem escrever e pedem a outros que escrevam por eles, e fazem tudo isto sem beats.

Daqui queria pedir a todos os manos que produzem que enviem beats para que estes manos possam escrever em cima de algo, e materializar as ideias que têm em música. Tudo serve, eles não querem fazer álbuns , querem apenas fazer músicas e sentirem-se felizes com as suas criações. Por isso podem mandar beats novos, antigos, usados, completos, incompletos. Tudo serve. Mc's que têm álbuns gravados se puderem disponibilizem os beats dos vossos álbuns que também serve. Manos que sacam e conhecem sites onde se pode fazer o download de beats estrangeiros dêem a dica também. Tudo serve.

Se tiverem material de som que não usem ou possam oferecer como mesas de mistura, gravadores de pistas, pratos, microfones, auscultadores, placas de som, programas de gravação, material informático etc, tudo isso também é muito bem vindo e agradecemos infinitamente a vossa ajuda.

Muito obrigado ao Conductor, Musik, Raze, Sam e Raptor pelo apoio que já deram. Também queria pedir a produtores, dj's e B-boys que tenham interesse neste projecto que se disponibilizem para partilhar as suas experiências ou possivelmente colaborar em workshops a realizar no centro de correcção.

Podem enviar coisas ou comunicar para os seguintes contactos:

Contactos – ccaxias@hotmail.comTelefone – 914155465 – Diogo Calheiros

Valete

terça-feira, agosto 28, 2007

3 primeiras regras de um (meu) manual de (re)iniciação para um mundo melhor

  1. Conhece-te a ti mesmo

Sempre que chegamos, seja lá onde esse chegar aconteça, antes de mais, fazemos o reconhecimento do território. Depois, das condições concretas. Depois, das pessoas, coisas e situações concretas condicionadas por essas mesmas condições concretas.

Tal reconhecimento serve de base para nos (re)estabelecermos, após mais uma partida e outra chegada.

Quantas mais vezes chegamos, seja lá onde esse chegar aconteça, vamos constatando que, depois de efectuados os devidos reconhecimentos de condições, pessoas, coisas e situações concretas, existe uma grave omissão: nós (eu)! Ou seja, a necessidade de efectuarmos, durante as estadias, na acção portanto, um processo de auto conhecimento rigoroso. Ou seja, assumindo aquilo que nós (eu) efectivamente somos (sou) e não aquilo que gostaríamos que fosse.

A acção de sempre chegar, seja lá onde esse chegar aconteça, tem, obrigatoriamente, de nos (a mim) fornecer um mapa de nós (mim) próprio(s).

Esse processo de auto conhecimento, forjado na acção é, creio, o ponto de partida para uma maior capacitação. Nesse processo dá-se uma espécie de homeostase (propriedade de um sistema aberto, seres vivos especialmente, de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável, mediante múltiplos ajustes de equilíbrio dinâmico controlados por mecanismos de regulação interrelacionados) entre o interior (nós / eu) e o exterior (território). Nessa homeostase aprendemos que defeitos e virtudes essenciais são categorias plásticas e que o exercício de tomada de decisões é centrado na procura de contextos virtuosos. Dito de outra forma, um mesmo traço de carácter pode ser defeito ou virtude em função do contexto e o contexto é uma emanação da base moral e como tal, duma procura interior “cá fora”.

Este é o ponto de partida, de chegada e de novo de partida e de novo de chegada em muitos ciclos em que procuramos reconhecer uma tendência ascendente.

  1. Chama o Outro pelo seu nome

No início, quando chegamos, seja lá onde esse chegar aconteça, animados e cheios de boas intenções, a capacitação surge como algo que estamos ali para oferecer através de uma qualquer acção que procura obter a eficácia. De alguma maneira se trata de um 'exercício empresarial' eticamente conduzido. Identificar bem quem nos rodeia, os nossos clientes, as necessidades, as deles, definir o mix de produtos, argumentos entendam-se, capazes de as satisfazer, planear e controlar, dirigir e organizar os recursos, os deles, de modo a procurar uma eficiência e eficácia que deixe todos (nós, eu) satisfeitos… é o objectivo!

No entanto, a eficácia gera coisas, a fertilidade gera seres. Concentrados na eficácia da afectação de recursos, os deles, depois de chegarmos, de nos estabelecermos e de nos impormos, vimo-nos conduzidos a relações instrumentais e até de paternalismo, nosso, e de dependência, deles. Possivelmente o erro mais grosseiro que se comete depois de chegarmos, seja lá onde esse chegar aconteça, e de nos estabelecermos.

Com objectivos quase sempre quantitativos e raramente qualitativos para cumprir, o caminho mais fácil é fazer o exercício já sabendo a resposta, ou seja, submetendo os meios aos objectivos e o processo ao resultado.

Ora a nossa (minha) experiência, sempre que chego, reconheço o território, me estabeleço e imponho, ensinou-me, por via do erro (a imposição) cometido, justamente o contrário: o processo define o resultado. A fertilidade emerge de relações constitutivas. Relações entre pessoas que decidem trabalhar, viver, caminhar em conjunto. Dessas relações brota um poder específico, uma capacitação que é apropriada de diferentes maneiras e em livre arbítrio, por cada uma das pessoas intervenientes.

Aprende-se que: a capacitação não se oferece, produz-se na relação. E não é de só de uma das partes, não se impõe, é de todas as pessoas da relação, que participam dela.

Os primeiros contactos, depois de chegarmos, reconhecermos o território, estabelecermo-nos, impormo-nos errando, e aprendermos, são um exemplo desta capacitação mútua, de nós (Eu) e dos Outros, gerada por uma relação constitutiva voltada para a melhoria do desempenho, seja ele qual for.

Essa relação para ser constitutiva, fértil, pressupõe que designemos o Outro pelo nome. Pressupõe o abandono da abstracção dos números, sim abstracção dos números, e das generalidades qualitativas assumindo o primórdio do sujeito. A revelação acontece imediatamente.

O sujeito, o substantivo tem muitos adjectivos. Cada pessoa é uma multiplicidade de identidades. Uma relação fértil parte da identificação daquilo que realmente nós (Eu) somos (sou) e daquilo que realmente o Outro é. Não daquilo que gostaríamos que o Outro fosse. Mas assume a possibilidade de mudança, a possibilidade de transcendência a partir do poder gerado no próprio seio da relação. Tal é a natureza da nossa (minha) Utopia.

  1. Mais importante que caminhar, descer em conjunto

Após nos conhecermos e chamarmos o Outro pelo nome dá-se um salto qualitativo na relação com o Todo. Surge o momento em que somos confrontados e confrontamos o Outro com a máxima de que ‘deixamos (deixei) de poder dar aquilo que prometemos’. Aparentemente tudo fica mais pobre. A promessa implica sempre mais. E eis que depois de chegarmos, reconhecermos o território, as condições concretas, as pessoas, coisas e situações concretas condicionadas por essas mesmas condições concretas, depois de nos impormos errando e aprendendo, perguntamos se nos (me) querem: assim pobres? A resposta, emocionada, desassombrada e avassaladora será sempre: sim! A nossa (minha) relação constitutiva com o Outro começa precisamente aí. Deixamos (deixo) de “estar para” para “estar com”. Em praticamente todas as opções “estar com” exige uma progressiva identificação com o Outro. A maneira de pensar, estar, sentir e agir. Não questionamos essas opções. Mas gostaríamos de valorizar a via da diversidade. A das relações constitutivas entre pessoas diferentes. Perde-se, talvez, em eficácia, ganha-se, de certeza, em fertilidade. A diversidade assente em relações não instrumentais e constitutivas gera fertilidade e capacitação. A mudança de estado dá-se quando vemos (vejo) os Outros como eles realmente são.

Devemos (devo e quero) estar conscientes de que vamos (vou) ter muitos mais momentos de desolação, logo aprendizagem, na acção. Se soubermos (souber) descer junto, reforçando relações, sem medo de bater no fundo vai ser fácil caminhar e subir para chegar de novo, seja lá onde esse chegar aconteça…

mego

sexta-feira, julho 06, 2007

the new 7 wonders


Querem mais? Nem precisam votar! São aos milhões!!!

terça-feira, abril 24, 2007

territórios de guerra

O TERRITÓRIOS DE GUERRA é um projecto transnacional que pretende incentivar e promover a reflexão e a interpretação crítica sobre o conceito "território de guerra" através de manifestações artísticas, acções artivistas e informação alternativa, com respeito à liberdade de expressão e em fomento de uma maior consciência colectiva para as causas, as características e as consequências de um qualquer território de guerra.

O TERRITÓRIOS DE GUERRA baseia-se em três eixos fundamentais: "do it yourself" (qualquer pessoa pode ser criadora e produtora de uma iniciativa artivista); "3 R's – reduzir/reutilizar/reciclar" (com poucos recursos financeiros e materiais muito pode ser feito); e "participação" (todos podem participar em qualquer fase do projecto: programação, produção, comunicação, procura de financiamento, etc. Não há um dono. Só há um grupo que coordena e que pode ir gradualmente aumentando).

Território de guerra pode ser entendido como um espaço físico, metafísico ou simbólico, público ou privado, exterior ou interior, no qual o conflito, o confronto e a disputa são características intrínsecas que podem assumir diferentes plataformas de luta.

Fundamentalismo vs. Cepticismo; Centro vs. Periferia; Multiculturalismo vs. Interculturalismo; Globalização Capitalista vs. Alter-Globalização; Ocidente vs. Médio-Oriente; Individual vs. Colectivo; Global vs. Local; Racionalidade vs. Emotividade.

O que é para ti um território de guerra?

Qual é o teu território de guerra?

Manifesta-te!

quinta-feira, abril 19, 2007

a receita do diabo

(Discurso do Presidente venezuelano na Sexagésima Primeira Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas – 20/09/06)

Apresentamos o discurso integral do presidente venezuelano. Neste discurso, Chávez classificou o presidente dos Estados Unidos como «o diabo» e as propostas apresentadas por Bush no discurso do dia anterior ante a ONU como «a receita do diabo». Esta foi a parte do discurso mais destacada na comunicação social dita “de referência”, ainda assim interpretada fora do contexto (sem fazer menção da «receita do diabo»), transformando-a num insulto gratuito.(…)

“Senhora Presidente, Excelências, Chefes de Estado, Chefes de Governo e Altos Representantes dos governos do mundo: muito bom dia a todos e a todas. Em primeiro lugar, quero convidar com muito respeito aqueles que não tenham tido a oportunidade de ler este livro, a que o leiam: Noam Chomsky, um dos mais prestigiosos intelectuais desta América e do mundo, Chomsky, num dos seus mais recentes trabalhos: Hegemonia ou Sobrevivência – A Estratégia Imperialista dos Estados Unidos. Excelente trabalho para entender o que aconteceu no mundo, o século XX, o que está a acontecer hoje, e a maior ameaça que paira sobre o nosso planeta: a pretensão hegemónica do imperialismo norte-americano põe em risco a própria sobrevivência da espécie humana.

Continuamos a alertar sobre esse perigo e a fazer um apelo ao próprio povo dos Estados Unidos e ao mundo para deter esta ameaça que é como a própria espada de Damocles. Eu pensava ler algum capítulo mas, para respeitar o tempo, é melhor que o deixe como uma recomendação. Lê-se rápido. (É muito bom, senhora Presidente, seguramente o conhece). Foi publicado em inglês, alemão, russo, em árabe, seguramente.

Vejam, eu creio que os primeiros cidadãos que deveriam ler este livro são os cidadãos irmãos e irmãs dos Estados Unidos, porque têm a ameaça em sua própria casa; o diabo está em casa, pois. O diabo, o próprio diabo, está em casa. Ontem veio o diabo aqui.

Ontem esteve o diabo aqui, neste mesmo lugar. Ainda cheira a enxofre esta mesa onde me cabe falar. Ontem, senhoras, senhores, desta mesma tribuna o senhor Presidente dos Estados Unidos, a quem eu chamo “o diabo”, veio aqui falar como dono do mundo, como dono do mundo. Um psiquiatra não estaria a mais para analisar o discurso de ontem do Presidente dos Estados Unidos. Como porta-voz do imperialismo, veio dar as suas receitas para tratar de manter o actual esquema de dominação, de exploração e de saque dos povos do mundo. Para um filme de Alfred Hitchcock, estaria bom; inclusive eu proporia um título: “A receita do diabo”.

Ou seja, o imperialismo norte-americano – e aqui Chomsky di­‑lo com uma clareza meridiana e profunda – está a fazer esforços desesperados para consolidar o seu sistema hegemónico de dominação. Nós não podemos permitir que isso ocorra, não podemos permitir que se instale a ditadura mundial, que se consolide, pois, que se consolide a ditadura mundial.

O discurso do Presidente-Tirano mundial, cheio de cinismo, cheio de hipocrisia, é a hipocrisia imperial, a tentativa de controlar tudo. Eles querem impor­‑nos o modelo democrático como o concebem: a falsa democracia das elites. E além disso um modelo democrático muito original: imposto à bomba, a bombardeamentos e à base de invasões e canhonaços! Que democracia! Seria preciso rever as teses de Aristóteles, não? E dos primeiros que falaram lá na Grécia da democracia, para saber que modelo de democracia é esse, que se impõe à base de marines, de invasões, de agressões e de bombas.

Disse ontem o Presidente dos Estados Unidos, nesta mesma sala, o seguinte (cito): «Onde quer que você olhe, ouve extremistas que lhe dizem que pode escapar da miséria e recuperar a sua dignidade através da violência, do terror e do martírio». Onde quer que ele olhe vê extremistas! Estou certo de que te vê, irmão, com essa cor, e crê que és um extremista. Com esta cor, Evo Morales – que veio ontem, o digno presidente da Bolívia – é um extremista. Por todos os lados, os imperialistas vêem extremistas.

Não, não é que sejamos extremistas; o que ocorre é que o mundo está a despertar e por todos os lados os povos se insurgem.

Eu tenho a impressão, senhor ditador imperialista, de que o senhor vai viver o resto dos seus dias como um pesadelo, porque onde quer que olhe, nós vamos surgir, nós que nos insurgimos contra o imperialismo norte­‑americano, nós que clamamos pela liberdade plena do mundo, pela igualdade dos povos, pelo respeito à soberania das nações.

Sim, chamam­‑nos extremistas, insurgimo­‑nos contra o império, insurgimo­‑nos contra o modelo de dominação.

Depois, o senhor Presidente veio falar­‑lhes... assim o disse: «Hoje quero falar directamente às populações do Médio Oriente, o meu país deseja a paz...». Isto é certo. Se nós formos pelas ruas do Bronx, se nós formos pelas ruas de Nova Iorque, de Washington, de San Diego, da Califórnia, de qualquer cidade, de San Antonio, de San Francisco, e perguntarmos às pessoas nas ruas, aos cidadãos estadunidenses, este país quer a paz. A diferença está em que o governo deste país, dos Estados Unidos, não quer a paz, quer impor­‑nos o seu modelo de exploração e de saque, e a sua hegemonia à base de guerras. Essa é a pequena diferença. Quer a paz, e o que está a acontecer no Iraque? O que aconteceu no Líbano e na Palestina? E o que tem acontecido em 100 anos, pois, na América Latina e no mundo? E agora as ameaças contra a Venezuela, novas ameaças contra a Venezuela, novas ameaças contra o Irão... Falou ao povo do Líbano: «Muitos de vocês», disse, «viram como os vossos lares e as vossas comunidades ficaram presos no meio do fogo cruzado». Que cinismo! Que capacidade para mentir descaradamente perante o mundo! As bombas em Beirute, lançadas com precisão milimétrica, são fogo cruzado? Creio que o Presidente está a pensar nos filmes do [Velho] Oeste, quando se disparava desde a cintura e alguém ficava atravessado no fogo cruzado. Fogo imperialista, fogo fascista, fogo assassino e fogo genocida, o do império e de Israel contra o povo inocente da Palestina e o povo do Líbano! Essa é a verdade! Agora dizem que sofrem, que “estamos a sofrer porque vemos os vossos lares destruídos”.

Enfim, o Presidente dos Estados Unidos veio falar aos povos, veio dizer, além disso – eu trouxe, senhora Presidente, uns documentos, porque estive esta madrugada a ver alguns discursos e a actualizar as minhas palavras – falou ao povo do Afeganistão, ao povo do Líbano: «Digo ao povo do Irão... digo ao povo do Líbano... digo ao povo do Afeganistão...». Bem, as pessoas perguntam­‑se: assim como o Presidente dos Estados Unidos diz “eu digo” a esses povos, o que lhe diriam esses povos a ele, se esses povos pudessem falar? O que lhe diriam? Eu vou responder porque conheço a maior parte da alma desses povos, dos povos do Sul, dos povos atropelados. Diriam: “Império ianque go home”, esse seria o grito que brotaria por todas as partes se os povos do mundo pudessem falar a uma só voz ao Império dos Estados Unidos.

Por isso, senhora Presidente, colegas, amigas e amigos, nós no ano passado viemos aqui a este mesmo salão, como todos os anos nos últimos oito, e dizíamos algo que hoje está confirmado plenamente e creio que quase ninguém aqui nesta sala poderia parar para defender: o sistema das Nações Unidas – aceitemo­‑lo com honestidade – o sistema das Nações Unidas, nascido depois da Segunda Guerra Mundial desmoronou­‑se, desabou, não serve! Bem, para vir aqui fazer discursos, para nos vermos uma vez por ano, sim, para isso serve sim; e para fazer documentos muito longos e fazer boas reflexões e ouvir bons discursos como o de Evo ontem, como o de Lula, sim, para isso serve, e muitos discursos, o que nós estávamos a ouvir agora mesmo, do Presidente do Sri Lanka e o da Presidente do Chile. Mas converteram esta nossa Assembleia num órgão meramente deliberativo, meramente deliberativo, sem nenhum tipo de poder para causar impacto na realidade terrível que o mundo vive.

Por isso nós voltamos a propor, a Venezuela volta a propor aqui hoje, neste dia 20 de Setembro, que refundemos as Nações Unidas. Nós fizemos no ano passado, senhora Presidente, quatro modestas propostas que consideramos de necessidade impostergável para que nós, os Chefes de Estado, os Chefes de Governo, os nossos embaixadores, os nossos representantes, as assumamos e as discutamos.

Primeiro, a expansão – ontem Lula dizia isso aqui mesmo – do Conselho de Segurança, tanto nas suas categorias permanentes como nas não permanentes, dando entrada a novos países desenvolvidos e a países subdesenvolvidos do terceiro mundo, como novos membros permanentes. Isso em primeiro lugar.

Em segundo lugar, bem, a aplicação de métodos eficazes de atenção e resolução dos conflitos mundiais, métodos transparentes de debate, de decisões.

Terceiro, nos parece fundamental a supressão imediata – e isso é um clamor de todos – desse mecanismo antidemocrático do veto, o veto nas decisões do Conselho de Segurança. Vejamos um exemplo recente: o veto imoral do governo dos Estados Unidos permitiu que as forças israelitas destroçassem livremente o Líbano, na nossa cara, diante de todos nós, evitando uma resolução no Conselho de Segurança das Nações Unidas.

E em quarto lugar, é necessário fortalecer – dizemos sempre – o papel, as atribuições do Secretário-Geral das Nações Unidas. Ontem, o Secretário-Geral fazia-nos um discurso, praticamente de despedida, e reconhecia que nestes dez anos o que fez o mundo foi complicar-se, e que os graves problemas do mundo, a fome, a miséria, a violência, a violação dos direitos humanos, o que fez foram agravar-se. Isso é a consequência terrível do colapso do sistema das Nações Unidas e da pretensão imperialista norte-americana.

Por outro lado, senhora Presidente, a Venezuela decidiu há vários anos travar essa batalha dentro das Nações Unidas, reconhecendo as Nações Unidas como membro que somos, com a nossa voz, com as nossas modestas reflexões; somos uma voz independente para representar a dignidade e a busca da paz, a reformulação do sistema internacional; para denunciar a perseguição e as agressões do hegemonismo contra os povos do planeta. A Venezuela deste modo apresentou o seu nome, esta pátria de Bolívar apresentou o seu nome e postulou­‑se para um posto como membro não permanente do Conselho de Segurança. Saibam que o governo dos Estados Unidos iniciou uma agressão aberta, uma agressão imoral no mundo inteiro para tratar de impedir que a Venezuela seja eleita livremente para ocupar um assento no Conselho de Segurança; têm medo da verdade, o império tem medo da verdade, das vozes independentes, acusando­‑nos de extremistas. Eles são os extremistas.

Eu quero agradecer aqui a todos aqueles países que anunciaram o seu apoio à Venezuela, mesmo quando a votação é secreta e não é necessário que alguém o anuncie. Mas creio que dada a agressão aberta do império norte­‑americano, isso acelerou o apoio de muitos países, o que fortalece muito moralmente a Venezuela, o nosso povo, o nosso governo. O Mercosul, por exemplo, anunciou em bloco o seu apoio à Venezuela, os nossos irmãos do Mercosul – a Venezuela agora é membro pleno do Mercosul com o Brasil, a Argentina, o Uruguai e o Paraguai – e muitos outros países da América Latina, como a Bolívia; o Caricom na totalidade anunciou o seu apoio à Venezuela; a Liga Árabe na totalidade anunciou o seu apoio à Venezuela. Agradeço muitíssimo ao mundo árabe, aos nossos irmãos da Arábia, essa Arábia profunda. Aos nossos irmãos do Caribe. A União Africana, quase toda a África anunciou o seu apoio à Venezuela. E países como a Rússia, como a China e muitos outros países do planeta. Muitíssimo obrigado, em nome da Venezuela, em nome do nosso povo e em nome da verdade. Porque a Venezuela, ao ocupar um posto no Conselho de Segurança, vai trazer não só a voz da Venezuela, [mas] a voz do Terceiro Mundo, a voz dos povos do planeta, aí estaremos a defender a dignidade e a verdade.

Mas além de tudo isso, senhora Presidente, creio que há razões para que sejamos optimistas, irrenunciavelmente optimistas, diria um poeta, porque mais além das ameaças, das bombas, das guerras, das agressões, da guerra preventiva, da destruição de povos inteiros, pode­‑se apreciar que se está a levantar uma nova era. Como canta Silvio Rodríguez, «a era está a parir um coração». Levantam­‑se correntes alternativas, pensamentos alternativos, movimentos alternativos, juventudes com pensamento distinto; já se demonstrou em apenas uma década que era totalmente falsa a tese do fim da história, totalmente falsa a tese da instauração do império americano, da pax americana, a instauração do modelo capitalista neoliberal que o que gera é miséria e pobreza, é totalmente falsa a tese, veio abaixo, agora é preciso definir o futuro do mundo. Há um amanhecer no planeta e vê­‑se por todas as partes, pela América Latina, pela Ásia, pela Europa, pela Oceânia.

Quero ressaltar essa visão de optimismo para que fortaleçamos a nossa consciência e a nossa vontade de batalha para salvar o mundo e construir um mundo novo, um mundo melhor. A Venezuela soma­‑se a essa luta e por isso somos ameaçados.

Os Estados Unidos já planearam, financiaram e impulsionaram um golpe de Estado na Venezuela e os Estados Unidos continuam a apoiar movimentos golpistas na Venezuela e contra a Venezuela, continuam a apoiar o terrorismo. A Presidente Michelle Bachelet recordava há alguns dias – perdão, há alguns minutos – o horrível assassinato do ex-chanceler chileno Orlando Letelier; eu só acrescentaria o seguinte: os culpados estão livres e os culpados daquela acção, onde morreu também uma cidadã estadunidense, são norte-americanos, da CIA, terroristas da CIA. Mas, além disso, é preciso recordar nesta sala que dentro de poucos dias também se completarão 30 anos daquela acção terrorista horripilante da explosão do avião cubano, onde morreram 73 inocentes, um avião da Cubana de Aviación, e onde está o maior terrorista deste continente e que assumiu, ele próprio, a explosão do avião cubano, como autor intelectual?

Esteve preso na Venezuela uns anos, fugiu pela cumplicidade de funcionários da CIA e do governo venezuelano de então. Está a viver aqui nos Estados Unidos, protegido por este governo, réu confesso e condenado.

O governo dos Estados Unidos tem dois pesos e duas medidas, e protege o terrorismo.

Estas reflexões, para dizer que a Venezuela está comprometida na luta contra o terrorismo, contra a violência, e se une a todos os povos que lutam pela paz, e por um mundo de iguais.

Falei do avião cubano, o terrorista chama­‑se Luis Posada Carriles, está protegido aqui. Assim como estão protegidos aqui grandes corruptos que fugiram da Venezuela; um grupo de terroristas que lá puseram bombas contra embaixadas de vários países, que lá assassinaram gente durante o golpe de Estado, sequestraram este humilde servidor e iam fuzilá-lo, só que Deus meteu a sua mão, e um grupo de bons soldados e um povo que foi às ruas; e por milagre estou aqui. Estão aqui, protegidos pelo Governo dos Estados Unidos, os líderes daquele golpe de Estado e daqueles actos terroristas. Eu acuso o governo dos Estados Unidos de proteger o terrorismo, e de ter um discurso totalmente cínico.

Falamos de Cuba, viemos de Havana, viemos felizes de Havana, estivemos ali vários dias; e ali se pode ver o nascimento de uma nova era: a Cimeira do G-15, a Cimeira do Movimento dos Não-Alinhados, com uma resolução histórica: Documento Final – não se assustem, não vou ler tudo – mas aqui há um conjunto de resoluções tomadas em discussão aberta e com transparência por mais de 50 Chefes de Estado. Havana foi a capital do Sul durante uma semana. Relançamos o Grupo dos Não­‑Alinhados, o Movimento dos Não-Alinhados; e se algo posso pedir aqui a todos vocês, companheiros, irmãos e irmãs, é que ponhamos muita vontade para fortalecer o Grupo dos Não-Alinhados, importantíssimo para o nascimento da nova era, para evitar a hegemonia e o imperialismo.

E, além disso, vocês sabem que designámos Fidel Castro presidente do grupo dos Não-Alinhados para os próximos três anos, e estamos seguros de que o companheiro presidente Fidel Castro vai levar a batuta com muita eficiência. Para os que queriam que Fidel morresse, pois ficaram frustrados, e frustrados ficarão; porque Fidel já está uniformizado de novo de verde oliva, e agora não só é Presidente de Cuba, como também o Presidente dos Não-Alinhados.

Senhora Presidente, queridos colegas, presidentes, aí nasceu um movimento muito forte: o do Sul. Nós somos homens e mulheres do Sul, nós somos portadores, com estes documentos, com estas ideias, com estas críticas, com estas reflexões – já vou fechar a minha pasta e levar o livro, não esqueçam que o recomendo muito, com muita humildade – tratamos de contribuir com ideias para a salvação deste planeta, para salvá-lo da ameaça imperialista e para que, oxalá em breve, neste século, não muito tarde, oxalá possamos vê-lo e os nossos filhos e os nossos netos vivê-lo: um mundo de paz, sob os princípios fundamentais da Organização das Nações Unidas, porém relançada e relocalizada. Creio que temos que transferir as Nações Unidas para outro país, em alguma cidade do Sul, propusemos desde a Venezuela. Vocês sabem que o meu médico pessoal teve que ficar fechado no avião, o meu chefe de segurança teve que ficar fechado no avião: não permitiram que viessem às Nações Unidas. Outro abuso e atropelo, senhora Presidente, que pedimos desde a Venezuela que fique registado como violação – pessoal até – do diabo.

Cheira a enxofre, mas Deus está connosco. Um bom abraço, e que Deus nos bendiga a todos. Muito bom dia."

Hugo Chávez Frias

sugerido por mego

sexta-feira, março 30, 2007

no mural da (r)evolução VII

"Só se deixa de lembrar de onde veio quem não teve uma criação (educação) forte!"

Carlão aka Pacman

segunda-feira, março 19, 2007

ama como a estrada começa

Se a estrada for a vida com muitas encruzilhadas de outras estradas com que nos deparamos ao longo da principal, não escolhemos o início da principal, é um facto, e ela pode ter muitos buracos, sinuosa, perigosa, mas é o início da estrada da nossa vida e não temos outra, há que amá-la.

As outras, quilómetros à frente, serão escolhas que poderão divergir umas das outras ou convergir cada vez mais para a principal, não importa, se são escolhas e têm buracos, sinuosidades e perigos, há que aprender a contorná-los e amar a estrada porque foi uma possibilidade de escolha, foi a nossa escolha no itinerário da principal: a vida, há que amá-la!

Mário Cesariny

sugerido por ana camargo

sábado, fevereiro 17, 2007

a (r)evolução está a ser televisionada

As preocupações e ansiedades da realidade são tão eficazmente afastadas com um comando na mão quanto ao entrarmos numa viagem induzida por drogas! Tal qual o alcoólico tem apenas uma vaga consciência do seu vício, achando que controla a bebida mais do que realmente o faz, do mesmo modo as pessoas sobrestimam o seu controle sobre o tempo passado a ver TV. O hábito de ver TV torna as outras experiências vagas e curiosamente irreais enquanto assume para si própria uma realidade maior.

o pão dos deuses é testemunha!

quarta-feira, janeiro 10, 2007

a arte de passear passarinhos

Conheci Damião em Mata Escura, um subúrbio pobre de Salvador da Bahia. Era um adolescente magro, de olhos enormes e redondos, que brilhavam sem sossego contra o suave negrume da pele. Vi-o com duas gaiolas, uma em cada mão, e julguei que vendesse pássaros.

“Papa-capim”, disse-me: “machos. As fêmeas não cantam. São mais devagar.”

Agradou-me o canto dos pássaros. Quanto custavam?

O rapaz encolheu os ombros magros, surpreso. Não estavam à venda. Não lhe pertenciam. Ele apenas os passeava.

“Passeias passarinhos, tu?!”

Que sim, passeava-os. Os papa-capim cantam melhor se os passearem. Damião passeia outros pássaros: curiós, cardeais, coleiros, batuques, bicudos, arapongas, canários. Leva as gaiolas por entre o trânsito, num equilíbrio difícil, até um pequeno jardim e pendura-as numa árvore. Pagam-lhe por isso. Muito pouco, pois os proprietários das aves são gente humilde. O suficiente para não morrer de fome.

Damião já foi Cosme. Cosme era “avião”, o nome que se dá aos meninos que trabalham para os traficantes de drogas levando e trazendo encomendas. Depois deram-lhe uma arma. Chegou a ganhar 1500 reais por semana – cerca de 500 €. Comprou pulseiras de ouro. Relógios caros. Sapatos de ténis, roupas de marca.

Cosme tinha um irmão gémeo, chamado Damião, que não queria ter nada a ver com o tráfico. Passeava passarinhos. Uma noite a polícia entrou na favela e arrombou a porta do barraco onde os dois gémeos viviam com a mãe. Vinham à procura de Cosme e encontraram Damião. A mãe, desesperada, tentou chamar-lhes a atenção para o equívoco. Riram-se dela. Um dos polícias encostou uma pistola à cabeça de Damião e disparou. A mãe enlouqueceu de dor. Vagueava pelo abismo das ruas gritando o nome do filho morto. Cosme enterrou o irmão com os seus relógios e colares de ouro, óculos Ray-Ban, uns ténis que acendiam luzes. Enterrou-se a ele mesmo. A partir daquele dia passou a ser Damião. Fê-lo com tal convicção, tanto desprendimento e dedicação, que não só os vizinhos, os traficantes e a polícia se convenceram de que quem morrera fora de facto Cosme, como a própria mãe despertou uma manhã reconciliada com a vida.

“Damião”, perguntou a Cosme: “Você sabe me dizer como se chama a uma mãe que perde um filho? Essa dor não tem nome. Não chorarei mais. Seu irmão escolheu a morte. Você vai viver pelos dois.”

Limpou as últimas lágrimas e foi procurar trabalho na Feira de São Joaquim. Cosme, aliás, Damião, gosta do seu ofício. Conhece os caminhos que alegram os pássaros, o fresco das sombras que os fazem cantar.

É feliz? Talvez não, mas um dia chega lá.

Faíza Hayat

sugerido por mego

terça-feira, dezembro 19, 2006

fernando cabeça na lua

ou o que existe de mais terrível na comunicação é o inconsciente da comunicação (Pierre Bourdieu)

Sam the Kid no seu single “Poetas de Karaoke” entre outras coisas, faz a reprovação dessa nova vaga de bandas portuguesas que resolve adoptar o inglês como a língua materna das suas canções, evocando razões como a procura da internacionalização ou uma mais refinada musicalidade nas palavras (dizem eles que o inglês é um língua mais musical) para essa opção.

Tudo é legítimo. É legítima a rejeição do português por parte das nossas bandas em detrimento do inglês, assim como é legítima a condenação por parte de Sam The Kid deste comportamento cada vez mais comum nos novos grupos portugueses. As bandas usufruem da liberdade de escolha e de acção, e Sam The Kid usufrui da liberdade de expressão. Aqui está expressa mais uma vitória da liberdade.

É um tema controverso. Mas o mais engraçado de tudo é que a controvérsia que se tem elevado com mais exuberância nem sequer tem vindo deste tema propriamente. A polémica veio da seguinte frase de Sam The Kid:

“ Querem ser os Moonspell, querem novos horizontes
Mas aqui o Samuel é MadreDeus é Dulce Pontes.”

Até um Ser com duas réplicas de neurónios made in Taiwan, perceberia facilmente que Sam The Kid com esta frase visava as novas bandas que cantam em inglês com a ideia de reproduzir (por exemplo) o sucesso internacional dos Moonspell. Sucesso este, que é algo de extraordinário e dificilmente reeditável. Uma frase em que Sam referenciava e exaltava os Moonspell e os seus êxitos, e onde distinguia o grupo dos restantes projectos “wanna be's”, foi interpretada por Fernando Cabeça na Lua (vocalista dos Moonspell) como uma frase ofensiva e acusatória para o seu grupo.

Destrambelhado e desnorteado Fernando Cabeça na Lua apressou-se a retaliar (o que não justificava retaliação) com declarações no Correio da Manhã e no fórum dos Moonspell: Entre todo aquele desvario hilariante, destacam-se frases como:
“Fizemos mais por Portugal que qualquer banda de HipHop”
“…continuo a acreditar que existe mais portugalidade numa nota/palavra de Moonspell que em todo o HipHop português.”

Primeiro: Porque é que quando um MC (neste caso o Sam The Kid) exprime a sua opinião sobre um determinado assunto, logo a seguir vêm as bestas arredondadas dizer: “vocês do HipHop”? O que é que o HipHop tem a ver com isto? O Sam The Kid é o Hip Hop? Somos todos iguais? Pensamos todos igual? No Heavy Metal todos se comportam e pensam igual?? Porque é que o Cabeça na Lua tinha que pôr o HipHop ao barulho?? Fernando Cabeça na Lua que falava de paranóias não patológicas em muito do Hip Hop que ouve, assume aqui a típica paranóia patológica desses alegóricos homens boçais e ultra-preconceituosos que precisam de fazer essa homogeneização do HipHop e dos HipHoppers, para assim mais facilmente nos caracterizarem a todos como os “putos dos gangs” que andam de boné ao contrário, armados a assaltar e a agredir pessoas indefesas.

Cabeça na Lua que dizia que ouve HipHop involuntariamente nas rádios e nas Tv's, teve a petulância de afirmar que há mais portugalidade numa nota de Moonspell que em todo o Hip Hop português. Lol, disse isto com a convicção e a altivez de quem conhece como um expert o HipHop nacional. Mais uma vez vítima da sua obtusidade e sobranceria, passou por pateta, porque mais de 90% dos grupos de HipHop português não passam nas rádios nem nas Tv's. Quantos grupos conhecerá Cabeça na Lua? Saberá do que fala? Claro que não… Um problema que poderia ter ficado resolvido com um simples telefonema para Sam The Kid, foi estupidamente exacerbado por Fernando (que perdeu a cabeça na Lua depois do feitiço), que também está a compactuar com uma guerra ridícula forçadamente fabricada pelo jornalismo merdoso do Correio da Manhã que na capa do seu suplemento cultural Êxito exibia o seguinte título: HipHop em guerra com o Heavy Metal. Triste. São estes Fernandos que estamos a internacionalizar?
sugerido por m.ego

sábado, dezembro 02, 2006

2 anos depois... no mural da (r)evolução VI

"Eu ando em frente... não em círculo!"

XEG

quarta-feira, outubro 18, 2006

planeta terra em saldo negativo ecológico

Se és um/a consumista inato/a ou simplesmente gostas do conforto ocidental, presta atenção a este dado: desde 09/10/2006, a conta ecológica da Terra entrou em saldo negativo. Por outras palavras, a partir de agora e até ao fim de 2006, os seres humanos estarão a explorar mais recursos naturais do que aqueles que podem ser renovados num ano civil.

O cálculo exacto do dia do ano em que a Terra passa a estar em débito ecológico é uma derivação da "pegada ecológica", que estima qual a área do planeta que cada pessoa precisa para suportar o seu estilo de vida. Outro conceito é o da biocapacidade de renovar os recursos - de uma cidade, uma região, um país ou da Terra como um todo.

Segundo os últimos cálculos da organização não-governamental Global Footprint Network, cada português precisava, em 2002, de 4,2 hectares de recursos do planeta. Mas o país só tinha capacidade para suprir 1,7 hectares por pessoa. Por habitante, havia então um débito de 2,5 hectares.

Com base neste tipo de dados, a New Economics Foundation (NEF), outra organização não-governamental, passou a determinar o dia exacto em que o salário ecológico anual da Terra termina.

E "o dia em que a humanidade começa a comer a Terra", como define um comunicado da NEF, ocorre cada vez mais cedo. Em 1987, o "dinheiro" acabou em 19 de Dezembro. Em 1995, a data estava já em 21 de Novembro. E este ano a conta entrou no vermelho ontem, 9 de Outubro.

"A humanidade está a viver do cartão de crédito ecológico e só o pode fazer liquidando os recursos naturais do planeta", resume Mathis Wackernagel, director executivo do Global Footprint Network.

sugerido por m.ego

sexta-feira, setembro 01, 2006

as dores que não param o mundo

" (...) O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)"

Mia Couto in O Fio das Missangas

sugerido por m.ego

um saco preto por cada vida perdida


Uma boneca de trapos foi deixada em cima de um dos cerca de 300 sacos pretos espalhados pelo centro financeiro de Sydney, Austrália, e que pretendem representar as vidas perdidas dos civis, mortos em conflitos bélicos um pouco por todo o mundo.

Foto: Mark Baker/AP.

domingo, agosto 20, 2006

nome de paz: ±

AP: Mas porquê?

±: Encontramo-nos no auge da era da informação e da comunicação, acompanhada por uma crise pós-moderna, consequência da civilização industrial e do fracasso da economia mundial sustentada no lucro e na acumulação de riqueza, em detrimento da condição humana e dos seus direitos.

O mundo ocidental é governado por estados entregues a grandes corporações, cujo único objectivo é o lucro, englobando as grandes empresas de comunicação, colaboradoras na constante manipulação das massas consumidoras com o objectivo de manter a população afastada da arena pública, ocupando-a com trivialidades, com “ópios”, na qual os comunicadores participam a todos os níveis, como concretizadores da linguagem.

Cabe-nos a nós, designers, materializadores dessa comunicação, maquilhadores do comércio e do mercado, repensarmos o nosso papel social. Cabe-nos, igualmente a nós, questionar de que modo podemos ou deveremos cooperar ou então insurgirmo-nos nesta (des)ordem mundial.

Está nas mãos desta jovem disciplina decidir o caminho do seu crescimento, as suas cumplicidades, os seus objectivos e as suas decisões. O design, conversor de ideias em matéria visual, deve agora, no início do milénio, e ainda nesta fase tão inicial, ponderar o seu papel e determinar a sua função nesta aparente crise global. O projecto da modernidade incumpriu-se nos seus propósitos ao permitir a consubstanciação de mecanismos de exclusão que são, eles próprios, a sua essência. Assim, persistimos num mundo dividido: de um lado uma maioria que luta pela sobrevivência, do outro lado a riqueza é acumulada por uma pequena minoria.

AP: E então??

±: O ± nasce graficamente da consideração de que a comunicação funciona como a energia da nossa sociedade de informação (como uma pilha, o ± dos pólos), como um mundo dividido entre o mundo ocidental (+) e o mundo em vias de desenvolvimento (–), como um mundo que diverge entre elite (+) e massas (–), entre a riqueza e a opulência (+) e a pobreza e a miséria (–), entre hegemonia (+) e o subvalorizado (–), entre o visível (+) e o invisível (–), o positivo (+) e o negativo (–) …

Neste sentido, representará a nulidade matemática entre o + e –, esta materializada, assim, na sua função de substituição de outros elementos de comunicação. Em termos cromáticos, assume o preto e branco, por dois motivos predominantes: primeiro pela força visual que o contraste entre estas duas cores provoca (o que é um elemento fundamental para o impacto prático exterior da identidade), a par da simplicidade da sua forma gráfica que o torna facilmente memorável e segundo, por serem as cores mais neutras, livres de possíveis conotações cromáticas.

A ausência de texto é um factor essencial, na medida que cria mais expectativa, incógnita e mistério, por não permitir uma leitura óbvia e directa, não ter um nome ou título, causando no público um efeito de diversificação de significados – são as pessoas que lhe dão nome, consoante as suas interpretações pessoais, para algumas nem é mais menos, são cruzes!

Deste modo, juntando o facto do seu carácter subversivo – a facilidade com que é memorizado juntamente com o facto de estar “aqui e ali”, onde menos se espera, ao virar da esquina ou no automóvel de alguém – com a sua indefinição linguística ou com a sua finalidade, torna-o muito mais apelativo e digamos de um modo pragmático, mais funcional.

O ± afirma-se como a substituição contra a repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância e sensibilidades internas.

AP: Para quê?

±: Num mundo em que o mercado e o corporativismo ameaçam cada vez mais os direitos fundamentais do Homem, devemos questionar de forma consciente, qual a nossa posição e quanto iremos contribuir para a sua continuidade.


Em grande parte seremos construtores de linguagem visual direccionada para a comunicação doutrinária, da face mais negra e hipnótica do mercado, da sua falsa e enganadora imagem? Faremos parte da elite culta mas
apática que ensina e prolifera em prol da manutenção/preservação da autoridade da outra, superior, pequena elite?

Metaforicamente, podemos afirmar que o papel de embrulho deste embuste/surpresa será criado por nós, ou seja concebemos as imagens que criarão as atitudes de submissão à autoridade.


Mas até que ponto nos poderemos insurgir ou fazer parte de uma dissidência comunicativa? Se até aqueles que tentaram, e tentam, acabaram por entrar neste polvo, que é o mercado, aparentemente sem saída. Parece ser aqui que reside o paradoxo da nossa disciplina: o design surge, em termos latos, para vender…


Os métodos e práticas do projecto procuram afirmá-lo como a substituição contra a

repetição sistematizada da informação mercantil e corporativista, assim como contra a sua falta de substância e sensibilidades internas. As marcas não têm conteúdo, não vendem produtos nem necessidades físicas, vendem
fantasias, imagem e necessidades psicológicas, mediaticamente
impostas. Assim, o ± – a identidade criada – garante a igualdade perante os objectos de consumo, não sendo criador de status ou diferenças sociais a partir do valor social e económico das marcas.


A sobreposição sobre os objectos vitais do mercado – como a publicidade, o dinheiro, a comunicação doutrinária (media essencialmente) ou mesmo o espaço público – será um dos principais objectivos. Um outro objectivo a referir será, utopicamente, substituir o que consideramos a identificação gráfica superficial, toda aquela que contribui para a distinção social, não só pelo status psicológico que lhe é atribuído, como pelos malefícios materiais, ligados às condições de trabalho por exemplo, que estas provocam.

AP: E que tal?

±: O ± teve um resultado que considero positivo e inesperado, nas áreas onde foi aplicado, do ponto de vista da interacção entre as pessoas e o meio, motivado pelo interesse fenomenológico das reacções de um público alargado. Os cartazes começaram a ser arrancados, os jornais publicaram, as pessoas questionaram o seu significado, criando as ideias mais exóticas.

Nos media, caros e elitistas, só se expressa quem tem dinheiro – o mercado e o sistema de doutrinação, que possuem os media – ou então quem se torna “notícia”. O ± foi um caso, aparecendo em jornais e revistas. Na generalidade a imprensa escrita é um veículo de informação essencial na nossa sociedade, a sua interpretação e assimilação devem ser cuidadas e atentas e na maioria das vezes reinterpretadas, mas é um excelente meio para transmitir mensagens, pois é uma fonte, socialmente “credível” e tem uma influência determinante nos comportamentos, nas discussões, nas preocupações e nas distracções dos cidadãos. Seguiu também um percurso alargado na área da intervenção localizada, tendo sido aplicado em diversas instalações e participações expositivas.

AP: E agora?

±: Agora é para continuar, nem mais, nem menos.

Entrevista realizada em Junho de 2006 por ABSOLUTPROPAGANDA

sugerido por m.ego

terça-feira, julho 18, 2006

criminologia

Existe uma relação necessária entre a “criminalidade” e a pobreza e desigualdade social. O combate ao crime é uma tarefa utópica enquanto existir gente perpetuamente condenada ao desemprego ou ao trabalho precário. Quem tem fome quer comer, e quando se está faminto a moralidade vale sempre menos que um prato de comida.

Cada modelo económico cria fatalmente um modelo político. A Infra-estrutura gera a Super-estrutura. Um modelo económico capitalista como o nosso, necessita de criar um Estado que proteja os interesses dos dinamizadores desse sistema (multinacionais e grandes proprietários), para que estes possam criar cada vez mais riqueza à base da exploração de quem realmente a produz (nós, os trabalhadores).

Num Estado gerado por um sistema capitalista, as leis mais não são que instrumentos para regular a opressão da classe “burguesa” sobre a classe operária.
Por isso a noção que nós temos de “crime”, foi-nos imposta por uma elite determinada a servir o modelo económico existente. O que hoje nós dizemos que é “crime” não é uma expressão da nossa Moral, não é uma aplicação da Justiça, não é uma manifestação do espírito do Povo, é sim, em primeiro lugar uma capa de protecção para os ricos e abastados.

NÃO FOI A MORAL QUE DETERMINOU O QUE É O CRIME, FOI O CAPITALISMO.

Por isso é que:

O teu patrão nunca será preso por não te pagar salários, mas tu poderás ser preso se tentares usufruir de algum produto da empresa que tu próprio ajudaste a fabricar.

Por isso é que:

O teu empregador, tem direito de te pagar 0,001% daquilo que tu produzes. Tu és apenas um escravo. O salário que te pagam serve apenas para te manteres vivo, porque convém sempre que vás trabalhar no dia seguinte.

Por isso é que:

Certas empresas colocam-te em estágios não remunerados durante 1 ano… como se alguém precisasse de 1ano para aprender uma profissão.

Por isso é que:

Hoje a lei permite que empresas tenham mais trabalhadores precários, do que trabalhadores efectivos.

Por isso é que:

É legal a venda do tabaco, do álcool e centenas de outros produtos (medicamentos e alimentos) altamente tóxicos, enquanto tens manos com 16 anos presos, por traficarem 50 euros de haxixe no jardim do teu bairro.

Por isso é que:

A Banca é uma das áreas de actividade económica mais lucrativas do nosso país, e por coincidência, é aquela que tem mais regalias fiscais. Para o Estado é mais importante sobrecarregar com impostos aqueles que mal ganham para viver, do que aqueles que nem conseguem contar o dinheiro que ganham.

Por isso é que:

Os “Vikings” americanos têm direito de entrar no teu país, destruir tudo à volta, torturar e matar a tua população, roubar as tuas riquezas e ainda cuspirem na tua cara dizendo que são os libertadores que vieram implantar a paz e a democracia.

Por isso é que:

Etc., etc., etc.

Como devem imaginar poderia encher todo o espaço em branco deste blog com mil e uma “legalidades” escandalosas que o Poder político validou para auxiliar o Poder económico. Aqueles que acreditam na separação e na independência do Poder Político em relação ao Poder Económico, mais não são que crónicos energúmenos que vivem adormecidos pelo fedor de toda esta imundície.

Sou claramente contra a violência desnecessária, claramente contra o roubo de pessoas que estão na batalha árdua do dia-a-dia, claramente contra o tráfico de drogas duras (são os nossos que estamos a matar), mas não esperem que fique incomodado, quando oiço notícias de alguém necessitado que assaltou um Banco, um “Belmiro de Azevedo”, ou uma bomba de gasolina. Bem pelo contrário, dá-me um gozo do caralho.

Valete
sugerido por Valete

sexta-feira, junho 16, 2006

democracias por medida

Às vezes apresentada como o melhor dos sistemas políticos, a democracia foi durante muito tempo uma forma rara de governo. Isto porque nenhum regime corresponde inteiramente ao ideal democrático, que pressuporia uma total honestidade dos poderosos para com os fracos e uma condenação verdadeiramente radical de qualquer abuso do poder. E também porque é preciso respeitar cinco critérios indispensáveis: eleições livres; existência de uma oposição organizada e livre; efectivo direito à alternância política; existência dum sistema judiciário independente do poder político; e, existência de órgãos de comunicação social livres. Mas mesmo assim, alguns Estados democráticos, como a França ou o Reino Unido, negaram durante muito tempo o direito de voto às mulheres e, por outro lado, eram potências coloniais que espezinhavam os direitos dos colonizados.

Apesar de tais defeitos, este método de governo tendeu a universalizar-se. Primeiro, sob o forte impulso do presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson (1856-1924). Mas sobretudo depois do fim da Guerra Fria e do desaparecimento da União Soviética. Nessa altura foi anunciado o “fim da História”, com o pretexto de que nada se opunha a que todos os Estados do mundo atingissem um dia os dois objectivos da felicidade suprema: economia de mercado e democracia representativa. Objectivos esses qe se tornaram dogmas intocáveis.

Em nome destes dogmas, George W. Bush considerou legítimo recorrer à força no Iraque. E autorizou as suas forças armadas a praticarem a tortura em prisões secretas implantadas no estrangeiro. Ou a submeterem a tratamentos desumanos, no degredo de Guantanamo, prisioneiros que estão fora de qualquer quadro legal, como há pouco o denunciou um relatório da Comissão dos Direitos Humanos da ONU, bem como uma resolução do Parlamento Europeu.

Apesar de cometerem tão graves infracções, os Estados Unidos não se coíbem de se erigir em instância mundial de homologação democrática. Washington habituou-se a aviltar os seus adversários qualificando-os sistematicamente como “não democráticos”, ou mesmo como “Estados párias” ou “bastiões da tirania”. A única condição para escapar a esta marca infamante é organizar “eleições livres”.

Mesmo assim, porém, tudo depende dos resultados. Mostra-o o caso da Venezuela, onde desde 1998 o presidente Hugo Chávez foi várias vezes eleito em condições democráticas garantidas por observadores internacionais. Inutilmente. Porque Washington continua a acusar Chávez de ser um “perigo para a democracia”, tendo mesmo chegado ao extremo de fomentar um golpe de Estado, em Abril de 2002, contra o presidente venezuelano, o qual, mais uma vez, se submeterá ao veredicto das urnas no próximo mês de Dezembro (2006)…

Três outros exemplos – no Irão, na Palestina e no Haiti – mostram que já não basta um candidato ser eleito democraticamente. No Irão, toda a gente achou fantásticas as eleições de Junho de 2005: participação maciça dos eleitores, pluralidade e diversidade dos candidatos (no quadro do islamismo oficial), e sobretudo uma brilhante campanha de Ali-Akbar Hachemi Rafsandjani, favorito dos ocidentais e dado como vencedor. Ninguém aludiu então ao “perigo nuclear”. Mas tudo se alterou de forma brutal após a vitória de Mahmud Ahmadinejad. E agora assiste-se a uma diabolização do Irão. Embora Teerão seja signatário do Tratado de Não Proliferação Nuclear e negue pretender a bomba, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, entre muitos outros, acusou há pouco o Irão de estar a levar a cabo “um programa nuclear militar clandestino”. E Condoleezza Rice, secretária de Estado norte-americana, esquecendo já as recentes eleições iranianas, reclama agora 75 milhões de dólares ao Congresso para financiar no Irão a “promoção da democracia”…

Situação igual, ou quase, na Palestina, onde os Estados Unidos, tal como a União Europeia, depois de terem exigido a realização de eleições “verdadeiramente democráticas”, vigiadas por uma miríade de observadores estrangeiros, agora recusam o resultado, a pretexto de que o vencedor, o movimento islamo-nacionalista Hamas, não agrada.

Por último, no Haiti, pudemos ver, aquando da eleição presidencial no passado dia 07 de Fevereiro (2006), a que ponto tudo foi feito de início para impedir a vitória de René Préval – finalmente eleito -, que a “comunidade internacional” se negava inteiramente a aceitar devido às suas ligações com o antigo presidente Jean-Bertrand Aristide.

“A democracia”, dizia Winston Churchill, “é o pior dos regimes, com excepção de todos os outros”. O que hoje parece acima de tudo incomodar, é não se poder decidir de antemão o resultado de uma consulta eleitoral. Porque alguns gostariam de poder implantar democracias por medida. Com resultados garantidos.

Ignacio Ramonet
sugerido por m.ego

terça-feira, junho 13, 2006

???!!!???

Tribunal recusou nacionalidade a indiana que não sabia a letra e a música do hino nacional e desconhecia os principais nomes da cultura e política nacionais. Apesar de ser casada com português e residir aqui há nove anos.

O Tribunal da Relação de Lisboa recusou a nacionalidade portuguesa a uma cidadã indiana, de 33 anos, casada com um português, com dois filhos portugueses e residente em Portugal há nove anos, onde detém dois estabelecimentos comerciais porque «não provou a sua ligação afectiva à comunidade portuguesa».

De acordo com o colectivo de juízes, Ana (nome fictício) não conhece sequer a letra e a música do hino nacional e desconhece as figuras relevantes da cultura portuguesa, não conseguindo identificar sequer os principais intervenientes da vida política portuguesa, escreve o «Público».

«Ouvida em declarações, oficiosamente determinadas pelo tribunal, a requerida revelou um desconhecimento absoluto da história, cultura e realidade política portuguesas. Praticamente nada sabe acerca dessas matérias, nenhum interesse ou curiosidade tendo revelado, ao longo destes anos em que passou a viver em Portugal, em tomar conhecimento com esses temas».

Escrevem ainda os magistrados que, «o seu interesse em ser portuguesa partiu, pura e simplesmente duma informação prestada na Conservatória do Registo Civil a que decidiu anuir, sem qualquer profundo sentimento de pertença à comunidade nacional, e apenas pelo facto de o seu marido e filhos terem a nacionalidade portuguesa».

De acordo com a lei da nacionalidade, o estrangeiro casado há mais de três anos com nacional português pode adquirir a nacionalidade mediante declaração feita na constância do matrimónio».

Fonte

terça-feira, maio 23, 2006

muito espectáculo, muito patriotismo, pouca informação ou: um patriota um idiota

Puta que pariu os falsos puritanos do patriotismo idiota.

E que tal cumprirem os vossos deveres cívicos em vez de pendurarem bandeiras à janela?

Já agora: para quando o sieg heil?

Não deixem que vos 'adormeçam' o cérebro!

Um povo patriótico trata bem do seu Estado, não dos símbolos. Um Estado patriótico trata bem dos seus cidadãos, não de grupos de interesses.

Não se esqueçam que o espantalho do patriotismo é o último refúgio para o abuso do poder, agitado quando faltam todas as outras razões!...

m.ego

sugerido por m.ego

sábado, maio 20, 2006

no mural da (r)evolução V

REJEITA AS NORMAS, PENSA POR TI...

pela criação de alternativas solidárias que destruam o lucro e quem o sustenta.
O planeta é nosso, o tempo é nosso... E ainda mal começamos...

ROMPE COM A NORMALIDADE.

in VSP06

quinta-feira, maio 04, 2006

muros

O Muro de Berlim era a notícia de cada dia. Da manhã à noite líamos, víamos, escutávamos: o Muro da Vergonha, o Muro da Infâmia, a Cortina de Ferro... Por fim, esse muro, que merecia cair, caiu. Mas outros muros brotaram, continuam a brotar, no mundo, e ainda que sejam bem mais grandes que o de Berlim, deles fala­‑se pouco ou nada.

Pouco se fala do muro que os Estados Unidos estão a alçar na fronteira mexicana, e pouco se fala do arame farpado de Ceuta e Melilla. Quase nada se fala do Muro da Cisjordânia, que perpetua a ocupação israelita de terras palestinianas e daqui a pouco será quinze vezes mais longo do que o Muro de Berlim. E nada, nada de nada, se fala do Muro de Marrocos, que desde há vinte anos perpetua a ocupação marroquina do Sahara Ocidental. Este muro, minado de ponta a ponta e de ponta a ponta vigiado por milhares de soldados, mede sessenta vezes mais que o Muro de Berlim.

Por que será que há muros tão altissonantes e muros tão mudos? Será devido aos muros da incomunicação, que os grandes meios de comunicação constroem em cada dia?

Em Julho de 2004, o Tribunal Internacional de Justiça de Haia sentenciou que o Muro da Cisjordânia violava o direito internacional e mandou que fosse demolido. Até agora, Israel não se inteirou.

Em Outubro de 1975, o mesmo Tribunal tinha opinado: «Não se estabelece a existência de vínculo algum de soberania entre o Sahara Ocidental e Marrocos». Ficamos curtos se dizemos que Marrocos foi surdo. Foi pior: no dia seguinte a esta resolução, desencadeou a invasão, a chamada Marcha Verde, e pouco depois apoderou­‑se a sangue e fogo dessas vastas terras alheias e expulsou a maioria da população.

E aí continua.

Mil e uma resoluções das Nações Unidas confirmaram o direito à autodeterminação do povo sarauí. De que serviram essas resoluções? Ia fazer-se um plebiscito, para que a população decidisse o seu destino. Para assegurar a vitória, o monarca de Marrocos encheu de marroquinos o território invadido. Mas em pouco tempo, nem sequer os marroquinos foram dignos da sua confiança. E o rei, que tinha dito que sim, disse que quem sabe. E depois disse que não, e agora o seu filho, herdeiro do trono, também diz que não. A negativa equivale a uma confissão. Negando o direito de voto, Marrocos confessa que roubou um país.

Continuaremos a aceitá­‑lo, como se nada fosse? Aceitando que na democracia universal os súbditos só podem exercer o direito de obediência?

De que serviram as mil e uma resoluções das Nações Unidas contra a ocupação israelita dos territórios palestinianos? E as mil e uma resoluções contra o bloqueio de Cuba?

O velho provérbio ensina:

A hipocrisia é o imposto que o vício paga à virtude.


O patriotismo é, hoje em dia, um privilégio das nações dominantes. Quando é praticado pelas nações dominadas, o patriotismo torna­‑se suspeito de populismo ou terrorismo, ou simplesmente não merece a menor atenção.

Os patriotas sarauís, que desde há trinta anos lutam para recuperar o seu lugar no mundo, conseguiram o reconhecimento diplomático de oitenta e dois países. Mas a Europa, não. Nenhum país europeu reconheceu a República Sarauí. Espanha, também não. Este é um grave caso de irresponsabilidade, ou talvez de amnésia, ou pelo menos de desamor. Até há trinta anos o Sahara era colónia de Espanha, e Espanha tinha o dever legal e moral de amparar a sua independência. Que deixou ali o domínio imperial? Ao fim de um século, quantos universitários formou? Ao todo, três: um médico, um advogado e um perito mercantil. Isso deixou. E deixou uma traição. Espanha serviu em bandeja essa terra e essas gentes para que fossem devoradas pelo reino de Marrocos. Desde então, o Sahara é a última colónia do África. Usurparam-lhe a independência.

Por que será que os olhos se negam a ver o que rompe os olhos?

Será porque os sarauís foram uma moeda de troca, oferecida por empresas e países que compram a Marrocos o que Marrocos vende, ainda que não seja seu?

Há um par de anos, Javier Corcuera entrevistou, num hospital de Bagdade, uma vítima dos bombardeamentos contra o Iraque. Uma bomba tinha-lhe destroçado um braço. E ela, que tinha oito anos de idade e tinha sofrido onze operações, disse:

– Oxalá não tivéssemos petróleo.

Talvez o povo do Sahara seja culpado porque na sua longa costa reside o maior tesouro pesqueiro do oceano Atlântico e porque sob as imensidões de areia, que tão vazias parecem, jaz a maior reserva mundial de fosfatos e talvez também haja petróleo, gás e urânio.

No Corão poderia estar, ainda que não esteja, esta profecia:

– As riquezas naturais serão a maldição das pessoas.

Os acampamentos de refugiados, no sul da Argélia, estão no mais deserto dos desertos. É um vastíssimo nada, rodeado de nada, onde só crescem as pedras. E no entanto, nessa aridez, e nas zonas libertadas, que não são muito melhores, os sarauís foram capazes de criar a sociedade mais aberta, e a menos machista, de todo o mundo muçulmano. Este milagre dos sarauís, que são muito pobres e muito poucos, não só se explica pela sua porfiada vontade de ser livres, que, isso sim, sobra nesses lugares onde tudo falta: também se explica, em grande parte, pela solidariedade internacional. E a maior parte da ajuda provém dos povos de Espanha. A sua energia solidária, memória e fonte de dignidade, é bem mais poderosa que os vaivéns das governações e os mesquinhos cálculos das empresas.

Digo solidariedade, não caridade. A caridade humilha. Não se equivoca o provérbio africano que diz:

A mão que recebe está sempre debaixo da mão que dá.

Os sarauís esperam. Estão condenados a pena de angústia perpétua e de perpétua nostalgia. Os acampamentos de refugiados levam os nomes das suas cidades sequestradas, dos seus perdidos lugares de encontro…

Eles chamam­‑se filhos das nuvens, porque desde sempre perseguem a chuva.

Desde há mais de trinta anos perseguem, também, a justiça, que no mundo do nosso tempo parece mais esquiva que a água no deserto.

Eduardo Galeano

sugerido por m.ego

quarta-feira, abril 12, 2006

no mural da (r)evolução IV

Não estou à espera que a revolução chegue de ninguém. Esta é a minha voz e a minha voz é a minha revolução pessoal.

Ben Harper

sugerido por m.ego

terça-feira, março 21, 2006

se o mundo fosse uma pequena cidade de 100 habitantes…

Haveria:

57 asiáticos
21 americanos
14 europeus
8 africanos

52 seriam mulheres
48 homens

30 seriam de cor branca, e
70 não teriam cor branca

30 seriam cristãos, e
70 não-cristãos

89 seriam heterossexuais, e
11 homossexuais

6 pessoas possuíam 59% da riqueza de toda a cidade,
e essas mesmas seis pessoas seriam norte-americanos

80 pessoas viveriam em condições infra-humanas, e
70 não seriam capazes de ler

50 sofriam de má-nutrição,
1 pessoa estaria a ponto de morrer,
1 bebé estaria a ponto de nascer

Só 1 pessoa teria educação universitária

Só 1 pessoa teria computador.


sugerido por cão de guarda

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

conversas vadias - agostinho da silva

“Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; […] Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha” – “Sete Cartas a um Jovem Filósofo”, 1945

“Não defendo este partido, nem o outro; se ambos diferem à superfície e podem arrastar opiniões, aprofundemos nós um pouco mais e olhemos o substrato sobre que repousa a variedade […] Que vejo de comum? O rebanho dos homens, ignorantes e lentos no pensar, que se deixam arrastar pelas palavras e com elas se embriagam” – “Diário de Alcestes”, 1945

“Não sou do ortodoxo nem do heterodoxo; cada um deles só exprime metade da vida, sou do paradoxo que a contém no total” – “Pensamento à Solta”

sugerido por m.ego

segunda-feira, fevereiro 06, 2006

EU sou mais eu! pois...

“Os grandes artistas roubam, artistas menores pedem emprestado”
August Staindberg
“O segredo para a criatividade é saber como ocultar as suas fontes”
Albert Einstein

Volta e meia aparece alguém a afirmar-se muito livre. Livre em relação a tudo e a todos. E, usualmente, em relação a alguém bem concreto… é uma afirmação do ego: EU. Eu não sou igual. Eu não sou influenciável. Eu sou diferente. Penso por mim mesmo, sou original. Eu sou eu mesmo… Pois…

É costume serem esses mesmos que também acusam outros de serem “cegos”, seguidores, influenciados, manipulados por X e Y, etc.

E é engraçado que essas mesmas pessoas costumam ser nitidamente influenciados por outrém. Em alguns casos são cópias mal disfarçadas e não assumidas. Deve ser por isso que têm tanta necessidade de afirmar a sua diferença e independência. É por tão nitidamente não a terem…

Bem, no meu caso posso afirmar, tristemente, que não tenho nada de original. E sim, sou influenciável.

Sou influenciável por tudo e todos. Pelos amigos e família. E colegas. E críticos e concorrência. Pelos livros, filmes, conversas, comidas, arquitectura e a p.q.p.! Tudo o que existe me influência. Toda a natureza, incluindo aí a minha própria natureza nos seus múltiplos aspectos. E, claro, o meu Mestre, a minha escola de Yôga, o próprio Yôga em todos os seus aspectos, e os hinduísmos que lhe dão contexto. E a sociedade como um todo. Com todos os seus grupos e subgrupos, políticos, artísticos, religiosos, anti-religiosos, etc. É um universo de influências sem fim! Sou um afectado!

E no entanto sinto-me cada vez a “pensar” mais e melhor. E cada vez mais por mim mesmo!

É interessante que de tanto “pensar” cheguei a conclusão que não só sou influenciável e nada original, mas que, de facto, não existe algo propriamente original! A existência é uma REcriação. Uma REnovação. Uma permanente REactualização da mesma coisa. De uma só coisa, una e integrada. A própria afirmação de que EU sou diferente e independente carece de lógica. Não faz sentido.

Originalidade só se a coisa for vista ao contrário: tudo é sempre novo e espontâneo! Vai dar ao mesmo mas não tem tanta piada, porque aí TUDO (E TODOS) é sempre novo e… não há destaque para o ego na mesma!

O Yôga tem destas coisas. A meditação dispensa e afasta influências externas, deixa a consciência fluir do interior, directo da origem, sem interferências, e, resultado: conclui-se que não há interior nem exterior e que o original afinal não o é assim tanto!

Originalidade é apenas dizer ou fazer a mesma coisa de forma diferente. Em outro contexto. Em outro lugar e época. E com cuidado para que ninguém repare! Quando me refiro aos postulados (dogmas, axiomas, verdades, afirmações ou outro nome que lhe queira dar) do uno, integração, re… não digo nada de original. Neste campo (da filosofia em geral e das Hindus em especifico) não conheço ninguém que tenha inventado nada. Na realidade, lá na Índia, conclusões filosóficas deste género são comuns, banais. Já se recriam desde há milhares de anos. É mais do mesmo…

Resultado: em originalidade sou parco. Muito parco!

E isso quer dizer que tenho um ego muito polido, humilde e controlado? Não, de todo.Adorava ter a sorte e o engenho (e a falta de vergonha) para anunciar ao mundo “novas” verdades e, naturalmente, ser bem recompensado por isso. (Se houver por aí crentes desesperados, desejosos de me eleger profeta, avisem.)

Mas não. Não tenho esse poder. Nem ando à procura dAquela verdade que ainda ninguém descobriu. Aquela definitiva. Absoluta acerca de tudo e de qualquer coisa. Não tenho pretensões a ser primeiro… o mensageiro salvador! Uma pretensão que fascina e obceca a tantos.

Na realidade sou apenas mais um no meio de muitos outros a fazer o mesmo que todos sempre fizerem: a existir. E, feliz ou infelizmente, estou consciente disso.

Ora porra!

Bem, pelo menos não me sinto neuroticamente mal por reparar, a cada nova “revelação” que afinal havia outra… E até sabe bem concordar. Encontrar pontos de união. Encontrar pessoas que pensam e querem o mesmo. Estar junto.

E para falar a verdade não me julgo menos “eu mesmo” por isso!

(Para constatar facilmente que este texto é uma cópia descarada que plagia milhares de CO-autores, recomendo começar a consulta pelos livros do Mestre DeRose, depois consultar os da bibliografia recomendada e depois os da bibliografia desses e depois os da bibliografia desses e depois… ou então faça pesquisa no Google!)

surfista prateado aka António

sugerido por m.ego

sexta-feira, janeiro 27, 2006

este mundo da injustiça globalizada

Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um facto notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.

Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos, entregue cada um aos seus afazeres e cuidados, quando de súbito se ouviu soar o sino da igreja. Naqueles piedosos tempos (estamos a falar de algo sucedido no século XVI) os sinos tocavam várias vezes ao longo do dia, e por esse lado não deveria haver motivo de estranheza, porém aquele sino dobrava melancolicamente a finados, e isso, sim, era surpreendente, uma vez que não constava que alguém da aldeia se encontrasse em vias de passamento. Saíram portanto as mulheres à rua, juntaram-se as crianças, deixaram os homens as lavouras e os mesteres, e em pouco tempo estavam todos reunidos no adro da igreja, à espera de que lhes dissessem a quem deveriam chorar.

O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. "O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino", foi a resposta do camponês. "Mas então não morreu ninguém?", tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: "Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta."

Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar (algum conde ou marquês sem escrúpulos) andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras, metendo-os para dentro da pequena parcela do camponês, mais e mais reduzida a cada avançada. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à protecção da justiça. Tudo sem resultado, a espoliação continuou.

Então, desesperado, decidiu anunciar urbi et orbi (uma aldeia tem o exacto tamanho do mundo para quem sempre nela viveu) a morte da Justiça. Talvez pensasse que o seu gesto de exaltada indignação lograria comover e pôr a tocar todos os sinos do universo, sem diferença de raças, credos e costumes, que todos eles, sem excepção, o acompanhariam no dobre a finados pela morte da Justiça, e não se calariam até que ela fosse ressuscitada. Um clamor tal, voando de casa em casa, de aldeia em aldeia, de cidade em cidade, saltando por cima das fronteiras, lançando pontes sonoras sobre os rios e os mares, por força haveria de acordar o mundo adormecido... Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias. É bem certo que a História nunca nos conta tudo...

Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino, uma campânula de bronze inerte, depois de tanto haver dobrado pela morte de seres humanos, chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante em que vos falo, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira quotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais exacto e rigoroso sinónimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em acção, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.

Mas os sinos, felizmente, não tocavam apenas para planger aqueles que morriam. Tocavam também para assinalar as horas do dia e da noite, para chamar à festa ou à devoção dos crentes, e houve um tempo, não tão distante assim, em que o seu toque rebate era o que convocava o povo para acudir às catástrofes, às cheias e aos incêndios, aos desastres, a qualquer perigo que ameaçasse a comunidade. Hoje, o papel social dos sinos encontra-se limitado ao cumprimento das obrigações rituais e o gesto iluminado do camponês de Florença seria visto como obra desatinada de um louco ou, pior ainda, como simples caso de polícia.

Outros e diferentes são os sinos que hoje defendem e afirmam a possibilidade, enfim, da implantação no mundo daquela justiça companheira dos homens, daquela justiça que é condição da felicidade do espírito e até, por mais surpreendente que possa parecer-nos, condição do próprio alimento do corpo.

Houvesse essa justiça, e nem um só ser humano mais morreria de fome ou de tantas doenças que são curáveis para uns, mas não para outros. Houvesse essa justiça, e a existência não seria, para mais de metade da humanidade, a condenação terrível que objectivamente tem sido. Esses sinos novos cuja voz se vem espalhando, cada vez mais forte, por todo o mundo são os múltiplos movimentos de resistência e acção social que pugnam pelo estabelecimento de uma nova justiça distributiva e comutativa que todos os seres humanos possam chegar a reconhecer como intrinsecamente sua, uma justiça protectora da liberdade e do direito, não de nenhuma das suas negações.

Tenho dito que para essa justiça dispomos já de um código de aplicação prática ao alcance de qualquer compreensão, e que esse código se encontra consignado desde há cinquenta anos na Declaração Universal dos Direitos Humanos, aquelas trinta direitos básicos e essenciais de que hoje só vagamente se fala, quando não sistematicamente se silencia, mais desprezados e conspurcados nestes dias do que o foram, há quatrocentos anos, a propriedade e a liberdade do camponês de Florença.

E também tenho dito que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, tal qual se encontra redigida, e sem necessidade de lhe alterar sequer uma vírgula, poderia substituir com vantagem, no que respeita a rectidão de princípios e clareza de objectivos, os programas de todos os partidos políticos do orbe, nomeadamente os da denominada esquerda, anquilosados em fórmulas caducas, alheios ou impotentes para enfrentar as realidades brutais do mundo actual, fechando os olhos às já evidentes e temíveis ameaças que o futuro está a preparar contra aquela dignidade racional e sensível que imaginávamos ser a suprema aspiração dos seres humanos. Acrescentarei que as mesmas razões que me levam a referir-me nestes termos aos partidos políticos em geral, as aplico por igual aos sindicatos locais, e, em consequência, ao movimento sindical internacional no seu conjunto. De um modo consciente ou inconsciente, o dócil e burocratizado sindicalismo que hoje nos resta é, em grande parte, responsável pelo adormecimento social decorrente do processo de globalização económica em curso.

Não me alegra dizê-lo, mas não poderia calá-lo. E, ainda, se me autorizam a acrescentar algo da minha lavra particular às fábulas de La Fontaine, então direi que, se não interviermos a tempo, isto é, já, o rato dos direitos humanos acabará por ser implacavelmente devorado pelo gato da globalização económica.

E a democracia, esse milenário invento de uns atenienses ingénuos para quem ela significaria, nas circunstâncias sociais e políticas específicas do tempo, e segundo a expressão consagrada, um governo do povo, pelo povo e para o povo? Ouço muitas vezes argumentar a pessoas sinceras, de boa fé comprovada, e a outras que essa aparência de benignidade têm interesse em simular, que, sendo embora uma evidência indesmentível o estado de catástrofe em que se encontra a maior parte do planeta, será precisamente no quadro de um sistema democrático geral que mais probabilidades teremos de chegar à consecução plena ou ao menos satisfatória dos direitos humanos. Nada mais certo, sob condição de que fosse efectivamente democrático o sistema de governo e de gestão da sociedade a que actualmente vimos chamando democracia. E não o é. É verdade que podemos votar, é verdade que podemos, por delegação da partícula de soberania que se nos reconhece como cidadãos eleitores e normalmente por via partidária, escolher os nossos representantes no parlamento, é verdade, enfim, que da relevância numérica de tais representações e das combinações políticas que a necessidade de uma maioria vier a impor sempre resultará um governo.

Tudo isto é verdade, mas é igualmente verdade que a possibilidade de acção democrática começa e acaba aí. O eleitor poderá tirar do poder um governo que não lhe agrade e pôr outro no seu lugar, mas o seu voto não teve, não tem, nem nunca terá qualquer efeito visível sobre a única e real força que governa o mundo, e portanto o seu país e a sua pessoa: refiro-me, obviamente, ao poder económico, em particular à parte dele, sempre em aumento, gerida pelas empresas multinacionais de acordo com estratégias de domínio que nada têm que ver com aquele bem comum a que, por definição, a democracia aspira.

Todos sabemos que é assim, e contudo, por uma espécie de automatismo verbal e mental que não nos deixa ver a nudez crua dos factos, continuamos a falar de democracia como se se tratasse de algo vivo e actuante, quando dela pouco mais nos resta que um conjunto de formas ritualizadas, os inócuos passes e os gestos de uma espécie de missa laica.

E não nos apercebemos, como se para isso não bastasse ter olhos, de que os nossos governos, esses que para o bem ou para o mal elegemos e de que somos portanto os primeiros responsáveis, se vão tornando cada vez mais em meros "comissários políticos" do poder económico, com a objectiva missão de produzirem as leis que a esse poder convierem, para depois, envolvidas no açúcares da publicidade oficial e particular interessada, serem introduzidas no mercado social sem suscitar demasiados protestos, salvo os certas conhecidas minorias eternamente descontentes...

Que fazer? Da literatura à ecologia, da fuga das galáxias ao efeito de estufa, do tratamento do lixo às congestões do tráfego, tudo se discute neste nosso mundo. Mas o sistema democrático, como se de um dado definitivamente adquirido se tratasse, intocável por natureza até à consumação dos séculos, esse não se discute. Ora, se não estou em erro, se não sou incapaz de somar dois e dois, então, entre tantas outras discussões necessárias ou indispensáveis, é urgente, antes que se nos torne demasiado tarde, promover um debate mundial sobre a democracia e as causas da sua decadência, sobre a intervenção dos cidadãos na vida política e social, sobre as relações entre os Estados e o poder económico e financeiro mundial, sobre aquilo que afirma e aquilo que nega a democracia, sobre o direito à felicidade e a uma existência digna, sobre as misérias e as esperanças da humanidade, ou, falando com menos retórica, dos simples seres humanos que a compõem, um por um e todos juntos.

Não há pior engano do que o daquele que a si mesmo se engana. E assim é que estamos vivendo.

Não tenho mais que dizer. Ou sim, apenas uma palavra para pedir um instante de silêncio. O camponês de Florença acaba de subir uma vez mais à torre da igreja, o sino vai tocar. Ouçamo-lo, por favor.

José Saramago

(Texto lido na cerimónia de encerramento do Fórum Social Mundial 2002)

sugerido por m.ego